Ratatouille nos ensina que acreditar nos sonhos sempre vale a pena
“De certa forma o trabalho de um crítico é fácil. Nos arriscamos pouco e temos prazer em avaliar com superioridade os que nos submeteram seu trabalho e reputação. Ganhamos fama com críticas negativas e que são divertidas de se escrever e ler.
Mas a dura realidade que nós críticos devemos encarar é que, no quadro geral, a mais simples porcaria talvez seja mais significativa que a nossa maior crítica. Mas há vezes em que um crítico arrisca de fato alguma coisa, como quando de repente descobre uma novidade. O mundo costuma ser hostil aos novos talentos e às novas criações. O novo precisa ser incentivado.”
O mundo sempre foi receptivo aos desenhos animados. Gostamos de ver na tela as infinitas possibilidades de animais, objetos e tudo mais que a mente humana possa ser capaz de pensar, de forma animada, falando e criando em mundo tão imaginário quanto os nossos sonhos permitirem.
As animações nos despertam um lado lúdico, nos fazem voltar a ser crianças e nos permitem enxergar o mundo com outros olhos.
Ratatouille e a magia da animação e dos desenhos
No passado, a magia de Walt Disney nos trouxe em imagens os contos de fada que ensinaram várias gerações, como Branca de Neve e os Sete Anões, Pinocchio, Chapeuzinho Vermelho, entre muitos outros. Nos dias de hoje, os traços refinados dos desenhistas deram espaço aos cliques precisos dos projetistas de animação.
Essa renovação nos trouxe “novos clássicos” como Toy Story, Procurando Nemo e Shrek, com personagens que ainda vão habitar a memória de adultos e crianças por muitas e muitas gerações.
Dificilmente vemos críticas negativas sobre um desenho ou animação. É como se tivéssemos uma certa complacência natural, perdoando erros e pequenas falhas que em tese não comprometam a história, uma vez que a proposta inicial permaneça inalterada e a mensagem final chegue ao espectador.
Com isso, sem dúvida, muitos desenhos acabam sendo superestimados. Nos conquistam por sua beleza e magia, mas nos esquecemos da parte técnica – se é que ela é realmente tão relevante assim para o público.
Foi assim que, apesar das ótimas críticas, confesso que não fiquei nem um pouco ansioso para ver a animação Ratatouille e, sendo assim, não vi o filme nos cinemas. Esperei passar todo o borburinho e a infinidade de críticas e matérias sobre o assunto para ver o filme em DVD e confirmar ou não tudo aquilo que li anteriormente.
A princípio a idéia de um rato se misturar a culinária não parece receptiva. Mas ao ter início o filme, não demoramos mais do que cinco minutos para perceber o quanto podemos estar enganados.
Em Ratatouille a mensagem é clara: acredite nos seus sonhos
Ratatouille não é mais um filme de animação com um bichinho engraçadinho que no final nos dá uma lição de moral. Por trás desta simples aparência somos convidados a conhecer a história do ratinho Remy, um roedor de olfato apurado e com um talento único para cozinhar.
Remy não é como seus demais amigos. Ele admira os seres humanos pela sua “criatividade” e pelas possibilidades que têm de inventar coisas novas e apreciar o que realmente é bom e sonha, de alguma forma, tomar parte naquele mundo, ainda que seja visto como uma peste ou símbolo de algo deplorável.
O roteiro bem-construído apresenta diversas situações de confronto de ideais – interesses da família vs. interesses pessoais; seguir um sonho vs. desistir ante às dificuldades; ser honesto vs. levar vantagem – todas muito bem resolvidas e pertinentes à trama.
É bem verdade que, ao final, nos vemos de novo diante do confronto de valores e “lições de moral”. Não importa. Ratatouille é bom professor e sua aula é cativante e encanta crianças e, principalmente, adultos que podem se sentir constrangidos diante de alguns preconceitos que todos nós carregamos.
Ratatouille é, sem dúvida, uma obra marcante e, a despeito das continuações que possam vir (afinal, para a grande indústria do cinema parece que uma continuação nunca é demais), Remy tem seu lugar cativo entre os personagens clássicos do cinema.
E se a palavra de ordem é acreditar sempre em nossos sonhos e procurar torna-los realidade, nada melhor que a magia da sétima arte para nos fazer “embarcar” nas mais inesperadas viagens que o destino possa nos conduzir. Afinal, quem melhor do que ele para a cada dia nos surpreender?
Nota 9.
* Texto publicado originalmente no site Portal de Cinema, em 2007.
Sinopse
Remy reside em Paris e possui um sofisticado paladar. Seu sonho é se tornar um chef de cozinha e desfrutar as diversas obras da arte culinária. O único problema é que ele é um rato. Quando se acha dentro de um dos restaurantes mais finos de Paris, Remy decide transformar seu sonho em realidade.
Ficha Técnica
- Título original: Ratatouille.
- Origem/Ano: Estados Unidos/2007.
- Direção: Brad Bird.
- Roteiro: Brad Bird.
- Produção: Brad Lewis.
- Fotografia: -.
- Montagem: Darren T. Holmes.
- Música: Michael Giacchino.
- Elenco principal: Patton Oswalt (Remy), Ian Holm (Skinner), Lou Romano (Linguini), Brian Dennehy (Django), Peter Sohn (Emile), Peter O’Toole (Anton Ego), Brad Garrett (Gusteau), Janeane Garofalo (Colette), Will Arnett (Horst) e Julius Callahan (Lalo / Francois).
Premiações
Oscar de Melhor Filme de Animação.
Indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora, Melhor Som e Melhor Edição de Som.
Globo de Ouro de Melhor Filme de Animação.
Curiosidades
Ratatouille estreou nos cinemas dos Estados Unidos em 22 de junho de 2007. No Brasil, estreou nos cinemas em 6 de julho de 2007.
O orçamento de Ratatouille foi de US$ 150 milhões e o filme arrecadou mais de US$ 623 milhões nas bilheterias.