Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo

Experimental ou pretensioso? Nona não encontra o caminho da narrativa e seus fragmentos

Nona: Se Me Molham, Eu os Queimo

Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo é o terceiro filme da diretora chilena Camila José Donoso. Ainda que o experimentalismo e o tom documental tenham sido marcas de seus trabalhos anteriores – Naomi Campbell e Casa Roshell – aqui é justamente a (com)fusão entre eles que resulta em um filme monótono e indeciso em sua narrativa.

Na trama, acompanhamos a história de Nona (Josefina Ramírez), uma senhora que é forçada a se exilar em uma cidade do interior depois de colocar fogo na casa do seu ex-amante. Estabelecida na nova cidade, e aparentemente afeita à rotina do lar, misteriosamente novas casas começam a pegar fogo na vizinhança, o que desperta a atenção dos vizinhos.

Indecisão de como contar uma história

A premissa de Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo é interessante os primeiros quinze minutos de filmes abrem muitas possibilidades de desenvolvimento. Entretanto, é no experimentalismo [ou seria na pretensão de mostrar uma personalidade fragmentada como a de Nona] que a trama se perde.

Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo

Camila José Donoso opta por misturar imagens gravadas em 18 mm, dando um aspecto de “documentário caseiro” em alguns momentos, com cenas em estilo teatral em digital. Se por um lado é compreensível que a proposta fosse a de mostrar um viés mais intimista da personagem, com sua filha permitindo que a própria mãe se apresente, por outro a forma como isso é feito acaba não contribuindo para o desenvolvimento da história.

A impressão que fica é que as idas e voltas entre um estilo e outro fazem com que a mensagem se perca. Conhecer mais detalhes de Nona sob a ótica da filha confere um certo ar de respeito com a personagem – parcialmente inspirada na mãe da própria Camila. São utilizados ainda recursos narrativos como riscos em filmes numa tentativa de mostrar que são fragmentos arranhados de memória.

Em síntese: há muitos elementos que analisados individualmente poderiam ser úteis, mas que juntos não demonstram coesão. Para o espectador, fica a sensação de uma história desorganizada, monótona e, por que não dizer, pretensiosa. É como se o filme estivesse mais preocupado em desfilar sua versatilidade de técnicas do que em contar propriamente uma história.

A importância de fazer escolhas

Particularmente, não acredito que a diretora de Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo não tenha domínio sobre as técnicas, pelo contrário. É justamente por conhecê-las bem que as desfila na tela. Entretanto, claramente notam-se falhas na hora de fazer escolhas sobre qual delas usar.

Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo

Essa colcha de retalhos não se une em momento algum. Há mais apresentações do ações, mais desfiles do que conclusões. De certa maneira, o tom documental e o fato de parte das histórias terem inspiração na própria avó de Camila podem, de certa forma, ter influenciado no sentido de contar uma história mais para si mesmo do que para o público.

Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo acaba se resumindo a ser um “filme de festival”, mas daqueles cuja exibição em circuito mais restrito se dá não pelo fato de ser independente, mas porque parece ter pouco a dizer. Pode fazer muito sentido como um retrato para a família, porém ao compartilhá-lo dessa forma com a audiência nos questionamos se seria mesmo necessário ter passado por pouco mais de 90 minutos de filme. Em formato de curta, certamente a história estaria mais bem resolvida.

Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo acrescenta pouco ao currículo da diretora, e menos ainda ao espectador.

Nota 4.

Sinopse

Depois de cometer um crime passional, Nona é levada pela filha para uma pequena cidade no interior do Chile para ficar exilada. Ela tenta encontrar paz na sua nova vida solitária se dedicando às tarefas da casa.

No entanto, fantasmas do passado parecem continuar a assombrá-la e no menor sinal que faz com que ela se sinta acuada, fazer uma nova vítima pode ser a solução.

Ficha Técnica

  • Título original: Nona. Si me mojan, yo los quemo.
  • Origem/Ano: Chile, Brasil, França, Coreia do Sul/2019.
  • Direção: Camila José Donoso.
  • Roteiro: Camila José Donoso.
  • Produção: Rocío Romero.
  • Fotografia: Matías Illanes.
  • Montagem: Karen Akerman e Camila José Donoso.
  • Música: -.
  • Elenco principal: Josefina Ramírez (Nona), Gigi Reyes (Filha), Eduardo Moscovis (Pedro), Paula Dinamarca (Saida) e Nancy Gómez (Nancy).

Curiosidades

Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo foi exibido pela primeira vez no Festival Internacional de Cinema de Rotterdã, na Holanda, em 28 de janeiro de 2019. No Brasil, estreou nos cinemas em 18 de fevereiro de 2021.

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