A Pequena Sereia

A Pequena Sereia se destaca pelo brilho de Halle Bailey, em mais uma boa adaptação da Disney

A Pequena Sereia

Lançada no final da década de 80, a animação A Pequena Sereia é ainda hoje um dos filmes mais icônicos da Disney. Assim, não é de se admirar que em tempos de remakes e reboots, o estúdio recorra a uma história consagrada para emplacar nos cinemas. A versão live action de A Pequena Sereia é mais uma boa aposta e o resultado é satisfatório.

Preservando o núcleo da história original, esta nova versão atualiza as perspectivas de Ariel para uma visão mais moderna – e acertada. A escolha de Halle Bailey para o papel, a despeito de críticas preconceituosas e misóginas, se mostra um dos maiores acertos do filme. O resultado deve se refletir em boa bilheteria e, certamente, em um produto rentável no streaming.

A Pequena Sereia cresceu

Na versão original, Ariel se encantava pelo príncipe Eric e, por ele, tinha o sonho de deixar o fundo do mar e viver entre os humanos. Nesta versão, as motivações de Ariel são distintas e mais condizentes com os tempos atuais. Tritão, seu pai, é um rei possessivo e que, após a morte da esposa por humanos, não quer ver suas filhas perto deles. No entanto, o desejo de Ariel é sair e ganhar o mundo – o que significa correr riscos.

A Pequena Sereia

Essa perspectiva coloca no centro da trama uma relação entre pai e filha, na qual o pai não quer admitir que a filha cresceu e pode seguir sua vida, e a filha não compreende por que não pode ser livre. Uma visão menos romântica e idealista e mais realista, condizente com a proposta de um live action.

Desesperada por ter seus argumentos frustrados pelo pai, Ariel recorre a Ursula, que quer se aproveitar da bela voz da jovem e se vingar de Tritão, seu irmão.

Um desfile visual em A Pequena Sereia

Rob Marshall, diretor responsável pela adaptação, é conhecido por seu trabalho em outro musical, Chicago. Novamente, ele opta por explorar os contastes visuais, ora com acertos, ora com erros.

Comecemos pelo contraste entre o fundo do mar e a superfície. Isso se reflete em uma primeira parte do filme em tons mais escuros e pouco vívidos, em contraste a um mundo de luzes e cores “latinas” da segunda parte. Não sem propósito, essas ambientações são um reflexo do estado de espírito de Ariel, triste e “sem vida” em seu habitat, alegre e vivaz em um mundo no qual há muitas descobertas a serem feitas.

A Pequena Sereia

Isso nos leva também aos números musicais. Mesmo aqueles que se desenrolam no fundo do mar são coloridos e atrativos o suficiente para encantarem o olhar. Consigo imaginar crianças repetindo à exaustão essas cenas nos serviços de streaming – aliás, creio ainda que esse filme funcionará ainda melhor em home vídeo do que nos cinemas.

Números musicais “inflam” a duração

Ainda que não seja cansativo, a duração de 2h15 me parece excessiva para um filme do gênero. A primeira parte de A Pequena Sereia poderia ser mais enxuta. Em muitos momentos as apresentações de personagens e o contexto das situações se estende mais do que o necessário, gerando até mesmo um desconforto com relação a quando a história vai se desenrolar propriamente.

Felizmente, os números musicais são bem elaborados e coreografados. Rob Marshall soube se aproveitar bem dos contextos e ambientes para criar números que fazem sentido tal qual um fluxo de consciência, torna-os agradáveis ao mesmo tempo que contribuem para levar a trama adiante.

O carisma de Halle Bailey e Ursula

Em termos de atuações, dois dos pontos fortes são as aparições de Halle Bailey (Ariel) e Melissa McCarthy (Ursula). Ambas conseguem criar um sentimento de antítese, indo do riso à tristeza de forma convincente. O número musical de Ursula, aliás, é na minha opinião um dos mais interessantes de todo o filme.

A Pequena Sereia

A atriz e cantora Halle Bailey, que até então tem no currículo atuações em filmes pouco relevantes, mostra que está pronta para papéis mais expressivos em outras produções. Caso priorize a carreira de atriz, deve ser um nome frequente a estrelar produções daqui em diante. Javier Barden como Rei Tritão também têm atuação segura, mas me pergunto como ele conseguiu se caracterizar de tal forma a ponto de ficar mais parecido com o Nicolas Cage.

Sabidão, Linguado e Sebastião, em suas versões animadas, também são ótimos contrapontos de humor. Em meio a tudo isso, quem destoa é Jonah Hauer-King (Eric). Inexpressivo, chega a ser irritante vê-lo reagindo de forma igual a momentos bons e ruins e, em contraponto, fica ainda mais notório o nível abaixo em relação aos demais.

Sem magia, mas com competência

A Pequena Sereia não tem a mesma magia da versão de 1989. Entretanto, isso não significa que esse não seja um filme agradável e com direção competente. A produção pode não superar as expectativas, mas mostra, sim, que versões em live action dos clássicos são um caminho viável para o cinema da Disney.

Gosto do filme, mas gosto mais ainda da forma como a releitura do clássico foi feita, com um toque moderno, mas sem deixar de lado a sua essência. Novas versões, com linguagem mais atrativa para um novo público, não maculam os originais. Diversidade de visões é sempre mais interessante, e temos ambas disponíveis para assistirmos quando bem entendermos.

Nota 7.

Sinopse

Ariel, uma jovem e pequena sereia, faz um acordo com uma bruxa do mar, para trocar sua bela voz por pernas humanas, para que ela possa descobrir o mundo acima da água e impressionar um príncipe.

Ficha Técnica

  • Título original: The Little Mermaid.
  • Origem/Ano: Estados Unidos/2023.
  • Direção: Rob Marshall.
  • Roteiro: David Magee, baseado em história de Hans Christian Andersen e roteiro de Ron Clements e John Musker.
  • Produção: John DeLuca, Rob Marshall, Lin-Manuel Miranda e Marc Platt.
  • Fotografia: Dion Beebe.
  • Montagem: Wyatt Smith.
  • Música: Alan Menken.
  • Elenco principal: Halle Bailey (Ariel), Jonah Hauer-King (Prince Eric), Melissa McCarthy (Ursula), Javier Bardem (King Triton), Jude Akuwudike (Joshua), Noma Dumezweni (Queen Selina), Kajsa Mohammar (Karina) e Lorena Andrea (Perla).

Curiosidades

A Pequena Sereia estreou globalmente nos cinemas em 26 de maio de 2023.

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