As Almas que Dançam no Escuro tem premissa instigante, mas se perde na teatralidade em excesso
“De boas intenções o inferno está cheio”, já diz o ditado. Pois que essa expressão serve bem para ilustrar As Almas Que Dançam no Escuro, filme brasileiro dirigido por Marcos DeBrito. A produção acerta na sua premissa, mas perde fôlego com um roteiro previsível.
Além disso, diálogos extensos e atuações marcadas pelo excesso de teatralidade enfraquecem a produção que, ainda assim, se mostra interessante. Como destaque, vale mencionar a atuação segura de Paulo Vespúcio (Carlos), claramente um tom acima em termos de qualidade no elenco.
Lutando contra os seus próprios demônios
Carlos descobre que a sua filha foi encontrada morta na praia após ter se afogado no mar. Porém, o corpo da jovem tem marcas de cortes, o que pode ser um indício de que houve um assassinato. Em sua busca desenfreada para encontrar o culpado, Carlos, literalmente, vai ao inferno e se vê disposto a vender a própria alma ao diabo para solucionar o mistério.
Adotando um tom sombrio e introspectivo, com planos abertos e contemplativos, As Almas Que Dançam no Escuro constrói uma premissa interessante em sua primeira parte. Carlos, um homem já perturbado pela morte recente da esposa, parece não ter mais nada a perder após a morte da filha, e por si só isso sustenta um personagem angustiante e, ao mesmo tempo, complexo.
Infelizmente, a condução de algumas sequências funciona de forma oposta, fazendo com que o filme perca a sua força.
O diálogo entre Carlos e Padre Sérgio (Alan Pellegrino), ainda na primeira meia hora de filme é um exemplo disso. São longos dez minutos de uma tentativa do religioso e em demover Carlos dos sentimentos de vingança, num momento que certamente poderia fazer com que a história avançasse sem tanta teatralidade.
Essa sensação se repete em outros momentos de diálogo entre Carlos e o host do Clube Inferno (Francisco Gaspar) em pelo menos dois momentos longos, no segundo e terceiro atos.
Explicações em excesso e ação de menos
Ainda que a premissa seja a de mostrar Carlos vivendo um “inferno em si mesmo”, com uma estética bem construída e que valoriza a analogia empregada na proposta, o fato é que o filme só parece caminhar a partir de longos diálogos.
Tudo é explicado, mastigado e entregue ao espectador de forma excessivamente didática. Se cinema é “imagem em movimento”, aqui é justamente a ausência dele que chega a provocar um certo desconforto. Fosse, talvez, uma peça de teatro e o resultado poderia ser mais poderoso.
É importante deixar claro que isso não é nenhum demérito aos atores por suas atuações. Na prática, o que se vê é que o roteiro não foi eficiente o suficiente para transformar palavras em ações, a ponto de comprometer a premissa que, volto a dizer, é interessante e de grande potencial.
Para onde vão as almas que dançam no escuro?
Depois de Condado Macabro, lançado em 2015, o trabalho do diretor Marcos DeBrito mostra evolução. Ainda que com propostas distintas, As Almas Que Dançam no Escuro já apresneta uma linguagem cinematográfica mais apurada, em termos conceituais e de expressão. Apenas a forma encontrada para o avanço da trama não foi a mais feliz.
Ainda assim, a produção tem seus méritos. A concepção da proposta é elogiável e a execução foge de lugares-comuns de produções independentes que flertam com o terror, que apostam no gore como maior atrativo. Com um pouco mais de polimento, possivelmente teríamos uma produção com uma narrativa mais atrativa.
Nota 6.
Sinopse
O corpo de uma jovem foi encontrado na praia. Carlos é chamado para identificar. É sua filha, mas ele não a reconhece. Os cabelos tingidos de preto e a estranha tatuagem no ombro mostram que Fernanda não era mais a menina alegre de quem ele se lembrava. Ao reparar que em seu braço havia indícios de violência, o pai em luto começa uma busca incansável pelo culpado.
Enquanto procura por respostas, Carlos se depara com segredos que a filha escondia, e sua investigação o leva a conhecer uma enigmática figura que promete ajudá-lo a encontrar o responsável pela morte de Fernanda, mas não sem antes pedir algo precioso em troca. O que um pai é capaz de fazer para descobrir a verdade?
Ficha Técnica
- Título original: As Almas Que Dançam no Escuro.
- Origem/Ano: Brasil, 2021.
- Direção: Marcos DeBrito.
- Roteiro: Marcos DeBrito.
- Produção: Adriano Lírio.
- Fotografia: Bony Conteville.
- Montagem: André de Campos Mello e Marcos DeBrito.
- Música: Ricardo Seola.
- Elenco principal: Paulo Vespúcio (Carlos), Francisco Gaspar (Host do Clube Inferno), Alan Pellegrino (Padre Sérgio), Elisa Telles (Fernanda), Gabriel Muglia (Paolo), Vera Lúcia Ribeiro (Legista), Marcelo Argenta (Delegado), João Cândido (Tatuador), Joana Seibel (Lúcia) e Fernando de Paula (Auxiliar da Legista).
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Curiosidades
As Almas que Dançam no Escuro estreou nos cinemas brasileiros em 29 de dezembro de 2022.