Blue Jean

Blue Jean traz reflexão LGBT+ essencial, mas drama britânico não empolga

Blue Jean

O filme britânico Blue Jean marca a estreia da diretora Georgia Oakley em longas para o cinema. Talvez por isso, ainda que trate de uma temática necessária, não há como notar uma certa falta de ritmo no desenvolvimento da trama.

Se por um lado esses problemas não enfraquecem a mensagem, por outro o resultado é um filme que pode soar cansativo, ainda que tenha duração de pouco menos de 1h40. Já a atriz Rosy McEwen (Vesper), no papel da jovem professora Jean, acerta o tom e contribui e consegue empatia com o espectador.

Blue Jean e a comunidade LGBT+

A trama de Blue Jean se passa no final dos anos 80, no Reino Unido. Margaret Thatcher está no poder e suas políticas conservadoras atingem frontalmente a comunidade LGBT+, que se vê intimidada e ameaçada. Jean (Rosy McEwen) é uma jovem professora de Educação Física com pensamento mais progressista.

Blue Jean

Lésbica, ela esconde a todo custo a sua vida pessoal para que não seja ameaçada em seu emprego. Aparentemente, ela tenta viver às margens do preconceito, ignorando-o em busca da aceitação em sociedade. Porém, alguns fatos ocorrem e isso a obriga a se posicionar: agir em prol da causa seria complicar a si mesmo, mas moralmente não seria esse o seu papel?

É o drama vivido por Jean o fio condutor da trama. Por um lado, o roteiro nos dá argumentos mais do que suficientes para justificar a indiferença e quase “invisibilidade” de Jean diante dos problemas. Por outro, situações na escola acabam por confrontá-la e colocá-la como uma espécie de vilã por não se posicionar.

Um debate necessário

Longe de querer apontar um caminho como certo ou errado, Blue Jean se encarrega muito mais em criar uma certa tensão e permitir que o espectador tire suas próprias conclusões. Julgá-la por omissão é válido, mas condená-la resultaria também em uma perda não apenas para ela, mas para a comunidade como um todo.

Blue Jean

Grande parte do mérito dessa reflexão se deve ao papel de Jean. Sua interpretação, contida na maior parte do tempo, denota uma tensão constante a cada diálogo, o que contribui para o espectador compreender melhor a dificuldade em simplesmente sobreviver dentro de um contexto tão desfavorável, no qual um simples olhar “errado” pode significar o fim de tudo.

Ainda que desenvolva bem a trama de Jean, infelizmente as personagens secundárias – Lois (Lucy Halliday) e Viv (Kerrie Hayes) – não são exploradas em profundidade. De certa forma, é compreensível a ideia da diretora em não dar a elas um “rosto”, pois aqui servem com um símbolo de diferentes pensamentos da comunidade, mas enfraquece a trama por não permitir uma maior identificação em razão de seus contextos de vida.

Falta mais fluidez à trama

Ainda que consiga transmitir a mensagem a que se propõe, falta uma certa dose de ritmo a Blue Jean. Muitas das cenas nas quais Jean e Viv aparecem juntas acabam se configurando como meros adereços. O problema aqui não é a sensualidade das sequências, mas sim a repetição delas em múltiplos contextos.

Blue Jean

Isso faz com que essas “pausas” para mostrar o lado mais íntimo de ambas se tornem repetitivas. É compreensível a ideia de mostrar Jean “livre” das suas tensões nesses momentos, mas com uma sequência já seria possível transmitir essa ideia. Não se trata de condenar a sensualidade, pelo contrário, mas a repetição das sequências pouco contribui para o desenrolar da trama, uma vez que não conhecemos melhor Jean ou mesmo Viv em função disso.

O uso do artifício é compreensível, esteticamente e comercialmente, mas deixa no ar uma sensação de déja vù. Ainda assim, inegavelmente Blue Jean é um bom trabalho e seu papel em termos cinematográficos se cumpre. Porém, um pouco mais de profundidade na apresentação dos personagens, certamente contribuiria para um envolvimento emocional ainda maior do espectador.

Nota 7.

Sinopse

Inglaterra, 1988. O governo conservador de Margaret Thatcher realiza uma campanha contra a população LGBT, obrigando Jean, uma professora de educação física, a levar uma vida dupla. A chegada de uma nova aluna a fará repensar sua luta pela liberdade.

Ficha Técnica

  • Título original: Blue Jean.
  • Origem/Ano: Reino Unido, 2022.
  • Direção: Georgia Oakley.
  • Roteiro: Georgia Oakley.
  • Produção: Hélène Sifre.
  • Fotografia: Victor Seguin.
  • Montagem: Izabella Curry.
  • Música: Chris Roe.
  • Elenco principal: Rosy McEwen (Jean), Kerrie Hayes (Viv / Jean’s lover), Lucy Halliday (Lois), Lydia Page (Siobhan / student), Stacy Abalogun (Ace / Jean’s friend), Amy Booth-Steel (Debbie / Jean’s workmate), Aoife Kennan (Sasha / Jean’s sister), Scott Turnbull (Tim / Sasha’s husband), Farrah Cave (Michelle) e Lainey Shaw (Paula / Jean’s workmate).

Drama | Assista nos cinemas

Curiosidades

Blue Jean estreou no Festival de Veneza, na Itália, em 3 de setembro de 2022. No Brasil, estreou nos cinemas em 27 de julho de 2023.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *