Documentário O Caso Big Mack acerta ao não fazer julgamento midiático, deixando a reflexão para o espectador
A história de Donald Stellwag é daquelas que parecem saídas dos roteiros mais interessantes de Hollywood. O documentário alemão Criminoso ou Inocente: O Caso Big Mack aborda um processo que rendeu mudanças na legislação do país, além de alçar à posição de celebridade um homem condenado de forma inocente – ou não.
Stellwag, um homem alto e corpulento, foi tomado por um assaltante de banco no início dos anos 90. Julgado, foi condenado a nove anos de prisão – tendo cumprido cada um dos dias da sentença. A questão: aparentemente não havia provas suficientes para condená-lo, e a principal peça do processo se baseou em um laudo de qualidade duvidosa.
Criminoso ou inocente?
Narrado de maneira linear, sem muitas invenções, Criminoso ou Inocente: O Caso Big Mack recorre a depoimentos de pessoas envolvidas no caso à época para ilustrar aspectos da história. Donald Stellwag, um personagem bastante peculiar, pode ter a favor de si o álibi de inocente, mas é nítida sua mania de “aumentar as histórias para torná-las mais interessantes”.
A questão é que, depois de cumprir pena e provar sua inocência – ou de comprovar a ausência suficiente de provas – anos depois ele é acusado novamente em outro crime relacionado a roubo. Será possível que um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar ou ele teria se aproveitado de um álibi “perfeito” para se envolver em outro crime?
O trabalho de direção da dupla Fabienne Hurst (de Rei dos Stonks) e Andreas Spinrath se mostra suficientemente eficiente para prender a atenção do espectador pelos 90 minutos, adicionando fatos novos e colocando cada informação relacionada ao caso com um viés de dúvida.
Big Mack se tornou uma celebridade
É inegável a importância do caso no universo jurídico alemão. Independentemente do fato de ele ser inocente ou não, há argumentos suficientes para se supor que houve uma abordagem pericial pouco confiável – o que coloca em xeque não apenas o julgamento, mas outros casos no qual o mesmo método foi a base.
O problema maior é a persona de Stellwag. Uma vez liberto, e tendo provado na justiça sua inocência, virou celebridade no país, frequentando programas de TV e sustentando uma imagem, da qual se aproveitou para os negócios. Sua própria natureza já nos dá indícios de ser um hábil negociante, alguém sempre pronto a se sair bem em um negócio, ainda que os meios não justifiquem os fins.
Novamente, pontuo: o mérito de Criminoso ou Inocente: O Caso Big Mack é não submeter Donald Stellwag a um novo julgamento – dessa vez midiático. Os fatos são apresentados, versões opostas são confrontadas e cabe ao espectador tirar suas conclusões. Obviamente, há alguma parcialidade, pelo simples fato de Stellwag ser a estrela em questão, mas ela é sutil a ponto de não nos influenciar.
Um bom passatempo
Criminoso ou Inocente: O Caso Big Mack tem mais méritos em roteirizar uma história que por si só já daria um ótimo filme do que em apresentá-la para o público. Simples, mas eficiente, o documentário certamente terá apreciação de juristas e profissionais de Direito, mas a reflexão sobre a presunção da inocência certamente vale o olhar.
Produção lançada com exclusividade na Netflix.
Nota 6.
Sinopse
Documentário sobre o Caso Big Mäck. Condenado por um crime que não cometeu, Donald Stellwag passa seis anos na cadeia preso de forma injusta. Décadas depois, ele volta a ser suspeito em outro crime. Será que desta vez ele também é inocente?
Ficha Técnica
- Título original: Big Mack: Gangster und Gold.
- Origem/Ano: Alemanha/2023.
- Direção: Fabienne Hurst, Andreas Spinrath.
- Roteiro: Fabienne Hurst e Andreas Spinrath.
- Produção: Teresa Messerschmidt.
- Fotografia: Borris Kehl e Paul Faltz.
- Montagem: Nathalie Bartel, Johannes Hiroshi Nakajima e Florian Bottger.
- Música: Jakob Klotz.
- Elenco principal: documentário.
Curiosidades
Criminoso ou Inocente: O Caso Big Mack estreou na Netflix 30 de março de 2023.