Delicadeza é Azul

Informativo e importante em sua mensagem, documentário tem falhas técnicas e esbarra em modelo conservador

Delicadeza é Azul

O Transtorno de Espectro Autista (TEA), popularmente conhecido como autismo, não é uma doença. Trata-se de um conjunto de condições que resultam no comprometimento, em maior ou menor grau, do comportamento social, da comunicação e da linguagem. Em Delicadeza É Azul, essa mensagem fica bastante clara e ó por isso o documentário já é digno de aplausos.

Entretanto, falamos aqui do filme como uma obra audiovisual e mérito à parte da sua mensagem, importantíssima por sinal, infelizmente o longa esbarra em algumas falhas técnicas e em um modelo engessado que acaba o tornando cansativo mesmo que sua duração seja de apenas 1h11.

Um projeto desenvolvido a quatro mãos

Delicadeza É Azul marca a estreia da atriz Yasmin Garcez (cujo trabalho mais conhecido é na série Órfãos da Terra, da TV Globo) como diretora de cinema. Ao lado de Sandro Arietta, outro estreante em longas, os dois desenvolveram o projeto ao longo de quatro anos, coletando entrevistas e material até o processo de pós-produção.

Delicadeza É Azul

A narrativa se vale dos cinco sentidos humanos para retratar toda a nossa plenitude de expressão – e esses elementos são ressaltados por personalidades referência em cada “sentido” como forma de contrapor o mundo de ausências que os portadores de TEA vivenciam, em maior ou menor grau.

As intenções são ótimas e a mensagem é transmitida com clareza, no sentido de mostrar que os portadores dessa condição não são doentes ou “especiais” [no sentido pejorativo do termo], mas sim pessoas com um desenvolvimento aguçado de certos sentidos e déficit em outros – o que pode provocar desequilíbrios no convívio social.

A escolha dos entrevistados também abrange uma gama distinta de particularidades da condição, mostrando que ela é muito mais multifacetada do que premissa popular é capaz de apontar.

Boas intenções, mas com problemas na execução

Delicadeza É Azul promove uma quebra de ideias pré-concebidas sobre o tema, ao mesmo tempo que consegue tratar com delicadeza os seus personagens. Entretanto, infelizmente alguns aspectos técnicos não acompanham esse ritmo. Não sei se por escolha ou necessidade, porém há um indicativo de vários cinegrafistas tendo atuado no projeto, o que pode ajudar a explicar um certa descontinuidade na linguagem visual adotada.

Delicadeza É Azul

A cada momento precisamos nos readequar à linguagem visual, como se estivéssemos vendo um novo filme. Falta unicidade entre as partes, o que contribui para que a exposição se torne monótona rapidamente.

A ideia das personalidades falando sobre cada um dos cinco sentidos é outro bom exemplo disso. Trata-se de um conceito interessante, mas cuja execução não funciona. A exceção do canto Ney Matogrosso, cujas falas são bastante exploradas e contribuem no contexto, as demais também parecem fora de eixo, de modo que se fossem retiradas do filme provavelmente não influenciariam muito o seu desenrolar.

A edição formulaica, próxima à de um produto feito para TV [sem demérito algum nisso, é bom ressaltar], acaba não funcionando em termos de cinematografia. Trata-se de um conteúdo relevante, mas que provavelmente faz mais sentido em um canal de TV por assinatura ou em um serviço de streaming do que na tela do cinema.

Novamente: Delicadeza É Azul tem seus méritos na abordagem do tema e na escolha em si do assunto, mas se perde em suas boas intenções e acaba entregando um produto que certamente não será suficiente para “fisgar” aqueles com menor conhecimento sobre o tema e que em teoria seriam os que mais precisariam compreender essa informação.

Nota 6.

Sinopse

Pessoas de diferentes idades e núcleos se reúnem para falar sobre autismo. Professores, pais e crianças explicam as suas perspectivas e como enxergam o mundo.

Ficha Técnica

  • Título original: Delicadeza é Azul.
  • Origem/Ano: Brasil/2020.
  • Direção: Yasmin Garcez e Sandro Arieta.
  • Roteiro: Yasmin Garcez e Sandro Arieta.
  • Produção: Yasmin Garcez e Sandro Arieta.
  • Fotografia: Marcelo Tabach.
  • Montagem: Sandro Arieta.
  • Música: Federico Puppi, Mario Wamser e Mari Blue.
  • Elenco principal: Documentário.

Curiosidades

Delicadeza é Azul estreou nos cinemas brasileiros em 14 de janeiro de 2021.

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