Elementos perde a chance de explorar um universo rico e aposta em romance óbvio
Não há um filme da Pixar que seja ruim. Entretanto, o alto nível das produções lançadas no passado criou uma espécie de “padrão Pixar”, em que filmes regulares são um fracasso perto do que o estúdio já produziu. Elementos, infelizmente, é apenas mais um a ocupar essa segunda prateleira.
Dirigido por Peter Sohn (O Bom Dinossauro), a produção perde a oportunidade de explorar um universo aparentemente rico, criado para ser o plano de fundo da história. Além disso, relega os elementos “terra” e “ar” a uma participação secundária em prol de um romance à moda Romeu & Julieta, na qual um dos personagens parece deslocado do espírito da produção.
Quais elementos faltam em Elementos?
Faísca (Leah Lewis) é uma jovem “fogo”, que trabalha na loja do pai. Ela está prestes a assumir o negócio com seu pai em vias de se aposentar, até que um incidente coloca o futuro da loja em risco. Gota (Mamoudou Athie), um inspetor do serviço de saneamento municipal, encontra irregularidades no encanamento do local e decide aplicar uma série de multas.
Desesperada, a jovem tenta reverter a situação e o fato faz com que Faísca e Gota se aproximem e iniciem uma relação de amizade como forma de resolver o problema. Ela, uma jovem preocupada com o trabalho e com o sonho dos pais humildes; ele, despreocupado com o futuro e proveniente de uma família mais abastada.
É nas diferenças entre eles que ambos estreitam laços. Não seria um problema se esse fosse apenas um dos aspectos do filme, mas a produção infelizmente se fecha apenas nessa história, deixando simplesmente de lado universo recém-apresentado.
Falta algo que torne Elementos fora do comum
Ao optar por contar uma história de amor, apenas emendando sequências de contradições entre o casal, Elementos perde a oportunidade de tornar esse universo mais rico. Quem são os demais elementos que vivem na cidade? De que maneira eles se comportam em um cenário no qual “água” é “elite” e “fogo” é “pobreza”? Todas essas perguntas ficam sem resposta.
Há que se mencionar ainda a composição do personagem Gota. Emotivo, ele chora por qualquer razão, muitas vezes agindo como um idiota perante situações aparentemente mais sérias. A questão aqui é que ele destoa do ritmo da história, chegando até mesmo a funcionar como uma “quebra”, um humor involuntário, mas que pouco acrescenta à trama.
Me incomodou ainda uma certa pobreza em muitos dos diálogos, muitas vezes limitados a uma resposta de duplos sentido fazendo alusão a alguma coisa do universo “água” ou “fogo”. Me parece o uso de um recurso fácil e, até certo ponto, preguiçoso para fazer rir. Funciona em algumas vezes, mas se torna cansativo quando repetido à exaustão.
Então Elementos é um filme ruim?
Não, muito longe disso. Na primeira parte da trama temos a apresentação do universo no qual se desenvolve a história, ainda que muitos elementos (sem trocadilho aqui) sejam simplesmente ignorados. A segunda parte é a mais problemática. A maneira como ambos se conhecem e se aproximam não soa natural a ponto de enxergarmos que há uma certa química entre o casal.
Já o terceiro ato é mais bem resolvido. Nesse ponto, a resolução da história funciona de tal forma que chega a ser impossível não se emocionar – uma emoção genuína, bem conduzida por um desfecho de bastante impacto e condizente com a mensagem que Elementos se propõe a passar.
Em outras palavras, se o destino final é alcançado com qualidade, o mesmo não se pode dizer da viagem que leva até ele. Faltou desenvolver melhor personagens secundários, contextualizar a cidade em si de forma mais eficiente – afinal, o início do filme dá a entender que ela também é um personagem nessa história – e arriscar ir além de uma simples história de amor proibido.
Para os padrões da Pixar, Elementos é um filme abaixo da média e, esquecível, por assim dizer. Entretanto, a capacidade de contar histórias de forma mágica não desaparece da noite para o dia. Há muito potencial nesse universo, mas para isso será preciso ousar um pouco mais e explorar algo que vá além do romance central.
Nota 7.
Sinopse
Em uma cidade onde cidadãos de fogo, água, terra e ar vivem juntos, Ember, uma jovem impetuosa, e Wade, um cara que segue o fluxo da vida, irão descobrir algo elementar: o quanto eles têm em comum.
Ficha Técnica
- Título original: Elemental.
- Origem/Ano: Estados Unidos/2023.
- Direção: Peter Sohn.
- Roteiro: Brenda Hsueh, John Hoberg e Kat Likkel.
- Produção: Denise Ream.
- Fotografia: -.
- Montagem: -.
- Música: Thomas Newman.
- Elenco principal: Wendi McLendon-Covey (Gale), Catherine O’Hara (Brook), Mamoudou Athie (Wade Ripple), Leah Lewis (Ember Lumen), Shila Ommi (Cinder Lumen), Ronnie Del Carmen (Bernie Lumen), Innocent Ekakitie e Mason Wertheimer (Clod).
Curiosidades
Elementos estreou nos cinemas dos Estados Unidos em 16 de junho de 2023. No Brasil, estreou nos cinemas em 22 de junho de 2023.