Golda: A Mulher de Uma Nação

Entre cigarros e closes, Golda: A Mulher de Uma Nação se perde ao não olhar além da biografada

Golda: A Mulher de Uma Nação

É inegável a importância histórica de uma cinebiografia como Golda: A Mulher de Uma Nação. A produção dirigida por Guy Nattiv (de Skin: À Flor da Pele) acompanha as decisões da primeira-ministra de Israel Golda Meir durante a Guerra do Yom Kippur, em 1973, um conflito envolvendo Egito e Síria.

Entretanto, há mais erros do que acertos na produção. O foco excessivo na protagonista, ainda que isso possa soar estranho por razões óbvias, é um aspecto incômodo. Em inúmeras ocasiões o filme se aproveita de closes no rosto de Golda Meir (Helen Mirren), tornando-se repetitivo e maçante ao não encontrar alternativas de conduzir a história.

Em termos históricos, um filme essencial

A Guerra do Yom Kippur foi emblemática por diversos aspectos. Durante 20 dias, forças árabes do Egito e da Síria tentaram tomar o território de Israel. Após alguns revezes, conduzidos por Golda Meir, primeira mulher a ser primeira-ministra de Israel, um cessar-fogo obtido por meio da ONU pôs fim ao conflito, que terminou com saldo positivo para os israelenses.

O papel de Meir no conflito foi significativo. Ela traçou estratégias, confrontou grandes potências e mostrou ao mundo a força do recém-criado estado de Israel. Por sua postura incisiva na defesa dos interesses de Israel, ganhou o apelido de “Dama de Ferro”, ainda que muitos israelenses se voltassem contra ela em razão das perdas nesse confronto.

A trama de Golda: A Mulher de Uma Nação é centrada nos acontecimentos que se desenrolam ao longo dos 20 dias de conflito. Apesar de ser um filme relativamente enxuto, com 1h40, seu desenrolar é penoso e cansativo, muito pelo fato de que as escolhas criativas acabam resultando na repetição constante de cenas e movimentos de câmera.

Helen Mirren é o ponto alto

Assim como já havia entregado uma atuação exuberante em A Rainha, de 2006, Helen Mirren novamente compõe uma personagem de encher os olhos. Irreconhecível, graças a uma maquiagem caprichada que a deixou praticamente idêntica à ex-primeira-ministra, Mirren, literalmente, preenche a tela com uma atuação segura e convincente, indo da emoção a rompantes de fúria com naturalidade.

Entretanto, se a ideia era mostrar o conflito se desenrolando sob o seu olhar, não era necessário insistir em closes seguidos, movimentos de câmera giratórios em torno da protagonista e sequências inteiras nas quais temos apenas Mirren e um inseparável cigarro na tela enquanto ouvimos a trilha de fundo.

Em alguma medida, parece faltar um pouco de profundidade também aos diálogos. Os fatos correm do “ponto A” para o “ponto B” nem sempre com naturalidade, deixando transparecer que “não há dúvidas sobre as consequências dos seus atos”, ainda que a postura de Meir, demonstre o contrário.

Golda: A Mulher de Uma Nação é um trabalho burocrático

Apesar de apresentar Golda como um dos personagens mais importantes da história de Israel, a cinebiografia a mostra de forma unidimensional. Meir se impõe, titubeia e é capaz de chorar ao entender que uma de suas decisões, ao mesmo tempo que promove o bem para a nação, tem um preço alto a ser pago ilustrado por uma mãe que perde um filho. Curiosamente, é a única mulher entre os homens a figura capaz de sentir na pele as consequências de suas decisões.

A escolha de narrar os fatos sem mostrá-los, em muitos momentos, enfraquece a narrativa. O drama vivido por Meir não é dimensionado de maneira expressiva pelo espectador – tornando até mesmo sua intensidade questionável em alguns momentos. Porém, por mais expressiva que a atuação de Helen Mirren possa ser, faltam elementos para tornar a trajetória mais interessante para quem a assiste.

Golda: A Mulher de Uma Nação é importante como peça histórica, caprichado do ponto de vista visual e nos apresenta mais uma ótima atuação de Helen Mirren. Todavia, enquanto filme é monótono, burocrático e, infelizmente, esquecível.

Nota 6.

Sinopse

As responsabilidades e decisões dramáticas e de alto risco que Golda Meir, a primeira mulher primeira-ministra de Israel, também conhecida como a ‘Dama de Ferro de Israel’, enfrentou durante a Guerra do Yom Kippur em 1973.

Ficha Técnica

  • Título original: Golda.
  • Origem/Ano: Reino Unido, Estados Unidos/2023.
  • Direção: Guy Nattiv.
  • Roteiro: Nicholas Martin.
  • Produção: Jane Hooks, Michael Kuhn e Nicholas Martin.
  • Fotografia: Jasper Wolf.
  • Montagem: Arik Lahav-Leibovich.
  • Música: Dascha Dauenhauer.
  • Elenco principal: Helen Mirren (Golda Meir), Zed Josef (Adam Snir), Claudette Williams (Golda Double), Henry Goodman (Chairman Agranat), Olivia Brody (Young Pianist), Emma Davies (Miss Epstein), Rotem Keinan (Zvi Zamir), Camille Cottin (Lou Kaddar), Jonathan Tafler (Dr. Rosenfeld) e Ellie Piercy (Shir Shapiro).

Drama | Biografia | Disponível em Amazon Prime Video

Premiações

  • Oscar 2024: indicado na categoria de Melhor Maquiagem e Cabelo.

Curiosidades

Golda: A Mulher de Uma Nação estreou no Festival de Berlim, na Alemanha, em 20 de fevereiro de 2023. No Brasil, estreou nos cinemas em 31 de agosto de 2023.

Para saber mais: leia o livro Golda Meier: A Biografia (Mulheres que Fizeram História).

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