Herói de Sangue

Herói de Sangue mostra que não há vencedores em uma guerra, mas não vai além disso

Herói de Sangue

Mathieu Vadepied é mais conhecido pelo seu trabalho de Direção de Arte no ótimo Os Intocáveis do que pela sua carreira como diretor. Assim, é possível se dizer que Herói de Sangue é um dos seus primeiros trabalhos amplos nesta função, e o resultado é bastante satisfatório.

O filme se passa durante a Primeira Guerra Mundial. Acompanhamos a história de Bakary Diallo (Omar Sy), pai de Thierno Diallo (Alassane Diong) que é convocado para defender a França na guerra, pela colônia senegalesa. Preocupado em proteger o filho, o pai também decide se alistar no mesmo batalhão.

Porém, quando são enviados para o front, as regras de guerra fazem com que a relação entre eles mude, o que coloca a vida de ambos em risco, ainda que por diferentes razões.

Herói de Sangue

Herói de Sangue é um filme rico em ambientação

Com poucos diálogos, Herói de Sangue, em sua primeira hora, se mostra uma produção assertiva em termos de ambientação. Conhecemos o estilo de vida da família Diallo e o impacto que a guerra tem mesmo em uma aldeia mais afastada, e com um estilo de vida mais pacato.

A relação pai e filho, aparentemente professoral, deixa Bakary preocupado: como o filho adolescente, ainda tendo muito a aprender, irá se portar durante uma guerra sem a tutela do pai? Ainda que, de certa maneira, por um lado exista o desejo de proteger o filho dos horrores da guerra, por outra há a desconfiança de que o jovem ainda não está pronto para o mundo.

Entretanto, assim como não vencedores em uma guerra, as regras as quais estamos acostumados também se subvertem. No front, a relação pai-filho quase sempre se mostra um “fardo” para ambos. E mais: apesar de percalços, o jovem parece ter mais traquejo (ou menos medo) para lidar com as situações adversas, o que acaba pesando a seu favor.

Herói de Sangue

Drama familiar permeado pela guerra

Ainda que a guerra seja o tema central, é o drama familiar que se sobressai em Herói de Sangue. A relação entre pai e filho se transforma, especialmente quando Thierno começa a ter papel de destaque no batalhão, tornando-se superior ao pai. Em nome da proteção, Bakary aceita as regras, mas na prática não é isso o que acontece.

Vale destacar aqui a atuação de Omar Sy. Construindo um eficiente homem de poucas palavras, Sy consegue transmitir sua angústia com um simples olhar mais terno para o filho, ao mesmo tempo em que transparece o desespero na busca por uma tentativa de fuga que pode custar a vida de todos.

Se encarar o front de guerra soa como um ato de ousadia, fugir dos horrores de uma batalha na qual os senegaleses são meros instrumentos de combate não parece oposto. Afinal, é preciso coragem para “trair” os valores pelos quais ambos lutam por mera obrigação e sem receberem nada em troca de sua nação.

Herói de Sangue

Momentos sensíveis, mas pouco empolgantes

Inegavelmente, o desenvolvimento de Herói de Sangue é pontuado por alguns momentos de sensibilidade, como o momento em que o filho comunica que será o superior do pai ou mesmo quando a mãe pede ao pai para que proteja o filho, antes mesmo do alistamento.  Além disso, há uma boa estruturação das sequências de combate, o que garante mais alguns bons momentos.

Porém, bons momentos não são suficientes para entregar uma história mais consistente. Falta profundidade aos personagens, de maneira que o espectador se interesse mais pelas suas histórias. Claro, o drama de guerra por si só é suficiente para termos empatia por eles, mas seria mais rico se houvesse um maior detalhamento sobre suas motivações.

Assim, ainda que o resultado seja um bom filme, fica no ar a sensação de que tudo poderia ser mais bem explorado. Herói de Sangue não foge da monotonia e, mesmo curto (1h38 de duração), cansa.

Nota 7.

Sinopse

Durante a Primeira Guerra Mundial, um pai se alista no exército francês para ficar com seu filho de 17 anos que foi recrutado contra sua vontade. Enviados para o front, eles se encontram enfrentando a guerra juntos na colônia francesa do Senegal.

Ficha Técnica

  • Título original: Tirailleurs.
  • Origem/Ano: França, Senegal, 2022.
  • Direção: Mathieu Vadepied.
  • Roteiro: Olivier Demangel e Mathieu Vadepied.
  • Produção: Bruno Nahon e Omar Sy.
  • Fotografia: Luis Armando Arteaga.
  • Montagem: Xavier Sirven.
  • Música: Alexandre Desplat.
  • Elenco principal: Omar Sy (Bakary Diallo), Alassane Diong (Thierno Diallo), Jonas Bloquet (Lieutenant Chambreau), Bamar Kane (Salif), Alassane Sy (Birama), Aminata Wone (Salimata), François Chattot (Général Chambreau), Clément Sambou (Adama), Oumar Sey (Abdoulaye) e Léa Carne (Lucie).

Drama | Ação | História | Assista nos cinemas

Curiosidades

Herói de Sangue estreou no Festival de Cannes, na França, em 18 de maio de 2022. No Brasil, estreia nos cinemas em 13 de julho de 2023.

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