John Wick 4 é o clímax de todos os filmes de ação da carreira de Keanu Reeves
Quando John Wick: De Volta ao Jogo estreou nos cinemas em 2014 tinha tudo para ser apenas mais um filme de ação na carreira de Keanu Reeves. Nove anos depois, em John Wick 4: Baba Yaga, o diretor Chad Stahelski nos entrega o clímax da saga. Agora, em uma produção com quase 3 horas de duração, mas de tirar o fôlego.
John Wick 4: Baba Yaga entrega tudo aquilo que promete. Cenas de luta coreografadas à extensão, ilustradas por composições de neon de alto contraste ressaltadas pela fotografia de Dan Laustsen. Perseguições de tirar o fôlego e movimentos de câmera que flertam com games, anime e até mesmo western completam a apoteose deste que, sem dúvidas, é o mais intenso dos filmes da série.
Baba Yaga: um filme construído em prol da ação
O nome Chad Stahelski talvez não seja conhecido do grande público. O diretor tem em seu currículo “apenas” 4 filmes – os quatro filmes de John Wick. Entretanto, como coordenador de dublês, esteve à frente de coreografias de luta icônica com as que vimos na trilogia original de Matrix.
Seu olhar apurado para construir cenas de luta épicas, como a de Neo vs. Agente Smith e seus clones em Matrix Reloaded, é um ótimo exemplo disso.
Entretanto, aqui sua missão não era das mais simples. Para quem acompanhou os três filmes anteriores de John Wick, é fácil perceber o crescente da série em termos de ação. A caçada contra o assassino interpretado por Keanu Reeves saiu das ruas de Nova York para ganhar o mundo e, se em no terceiro filme tudo já parecia de uma magnitude impossível de ser superada, aqui vemos que era possível ir além.
John Wick em busca da redenção
John Wick segue sua jornada em busca de libertação. Depois dos eventos de John Wick 3: Parabellum, Wick sobrevive e está pronto para caçar novamente aqueles que querem sua cabeça. O prêmio por ela aumentou: agora são US$ 20 milhões. E aumentou também o número de bandidos em todo o mundo querendo a recompensa.
Passando por Osaka, Berlin e Paris, Wick varre bandidos como quem aspira o pó da sala de uma forma natural, integrada às paisagens dessas grandes cidades. Nas quase três horas de duração – 2h49 para ser mais exato – praticamente não há tempo para recuperar o fôlego. Sequências de ação estonteantes que, em sua ampla maioria, funcionam e entregam um nível de entretenimento dos melhores.
Um balé de pancadaria, tiros e assassinatos
Para se ter uma ideia da magnitude das sequências de ação, contei pelo menos 14 delas ao longo do filme. Em todas, claro, John Wick varre os inimigos de forma ímpar, das maneiras mais improváveis possíveis. Entretanto, duas delas chamam a atenção pela plasticidade, pela sincronia e pela forma como trilha e movimentos se casam de maneira singular.
A primeira delas é em uma casa noturna de Berlin, quando enfrenta um séquito de mafiosos ao som de dance music sob uma cascata. O efeito causado pela combinação da coreografia da luta com Killa (Scott Adkins), tendo o público dançando de plano de fundo, cria uma sensação de frisson única. É difícil não arrancar um “uau” quando tudo termina, tamanha é a intensidade.
Outro momento marcante é o da batalha diante do Arco do Triunfo, em Paris. Carros e armas se misturam em meio a uma caótica rotatória na qual tiros e atropelamentos se tornam a regra – tudo isso pontuado por uma trilha que inclui Marie Douceur, Marie Colère (versão francesa e original que, posteriormente, foi regravada pelos Rolling Stones como Paint It Black).
Destaco ainda, em Paris, outro momento no qual o show se dá por conta da câmera. Stahelski opta por uma câmera aérea e cria uma sequência que mais se parece com a da perspectiva que o jogador tem um game isométrico como Diablo. O movimento funciona tão bem que, por instantes, somos conduzidos pela ação, dando uma dimensão ainda maior à magnitude da cena.
Donnie Yen é a mais grata surpresa da trama
Se Mark Dacascos havia construído um oponente singular a John Wick em Parabellum, aqui é a vez de Donnie Yen se destacar. O ator chinês dos filmes O Grande Mestre e de Rogue One: Uma História Star Wars aqui é Caine, um ex-companheiro de John Wick que, cego, consegue lutar de igual para igual com qualquer um.
Seu personagem adiciona carisma às cenas, aliviando as sequências de luta com um tom cômico, ao mesmo tempo em que serve como fio condutor na trama. É ele o elo que liga John Wick ao Marquês (Bill Skarsgard), um vilão que mistura crueldade com uma empáfia e arrogância que o colocam acima até mesmo dos interesses da Cúpula.
Por suas características, ele em momento algum parece ser um adversário à altura de John Wick. Porém, o fato de ter Caine ao seu lado (ou ao menos forçá-lo a isso) o torna um oponente valioso e bem representado.
Ação com bom roteiro – não se vê todo dia
Assistir aos três primeiros filmes não é uma obrigação para desfrutar de John Wick 4: Baba Yaga, mas aqueles que já tiverem essa bagagem certamente vão aproveitar ainda mais. Não há dúvidas aqui que muitas das cenas foram construídas tendo em mente o desejo dos fãs – o que funcionou em filmes anteriores se repete e é amplificado.
A franquia John Wick deve se transformar em múltiplos produtos – as séries The Continental e Ballerina, spin-offs da franquia, já estão em produção. Aqui é mais uma oportunidade para apresentar elementos que podem dar vida a essas duas subtramas. Algumas pontas soltas no final, relacionadas a Winston (Ian McShane) e Akira (Rina Sawayama), me levam a crer que não ficam em aberto por acaso.
Assim, as quase três horas de duração podem parecer demasiadas se pensarmos apenas no filme em si, mas se justificam sob a ótica de construção de um universo no qual ainda há muito a ser explorado.
E, de fato, ainda que seja o desejo de todos, oficialmente um quinto filme de John Wick ainda não foi confirmado – e especular algo sobre isso seria estragar a diversão com spoilers.
John Wick 4: Baba Yaga é acima da média
Se Tom Cruise conseguiu trazer os velhos filmes de ação de volta ao centro das atenções com Top Gun: Maverick, Keanu Reeves aos 59 anos se consolida como o astro dos filmes de ação do momento. Assim como Neo em Matrix, não há como dissociar Reeves de Wick. Guardadas as proporções, ele é, por assim dizer, uma espécie de Rambo dessa geração.
Seu sucesso multimídia – Keanu Reeves é idolatrado também no mundo dos games, especialmente pela participação em Cyberpunk 2077 – não é por acaso e John Wick 4: Baba Yaga coroa essa trajetória. Não é nenhum absurdo afirmar que esse é o melhor filme de ação de Keanu Reeves – e olha que opções não faltam no currículo.
John Wick 4: Baba Yaga é exatamente o que se propõe a ser: entretenimento do começo ao fim, com muitos elementos da cultura pop exibidos em ritmo frenético. Que o cinema de ação tenha mais Top Guns e John Wicks. Quem ama entretenimento sem compromisso, agradece.
Nota 9.
Sinopse
Com o preço por sua cabeça cada vez maior, o lendário assassino de aluguel John Wick leva sua luta contra o High Table global. Enquanto isso, enfrenta os assassinos mais poderosos do submundo, de Nova York a Paris, do Japão a Berlim.
Ficha Técnica
- Título original: John Wick: Chapter 4.
- Origem/Ano: Estados Unidos/2023.
- Direção: Chad Stahelski.
- Roteiro: Shay Hatten e Michael Finch, baseado em personagens criados por Derek Kolstad.
- Produção: Basil Iwanyk, Erica Lee e Chad Stahelski.
- Fotografia: Dan Laustsen.
- Montagem: Nathan Orloff.
- Música: Tyler Bates e Joel J. Richard.
- Elenco principal: Keanu Reeves (John Wick), Donnie Yen (Caine), Bill Skarsgård (Marquis), Laurence Fishburne (Bowery King), Hiroyuki Sanada (Shimazu), Shamier Anderson (Tracker), Lance Reddick (Charon), Rina Sawayama (Akira), Scott Adkins (Killa), Ian McShane (Winston), Marko Zaror (Chidi), Natalia Tena (Katia) e Aimée Kwan (Mia).
Curiosidades
John Wick 4: Baba Yaga estreia nos cinemas globalmente 23 de março de 2023.
Quarto filme da série. Os demais foram John Wick: De Volta ao Jogo (2014), John Wick: Um Novo Dia Para Matar (2017) e John Wick 3: Parabellum (2019).