Adaptação para os cinemas do jogo Monster Hunter é um trabalho pavoroso e chega a ser difícil acreditar que tenha sido produzido
Ao falar do casal Paul W. S. Anderson e Milla Jovovich, respetivamente diretor e atriz principal de Monster Hunter, os primeiros filmes que vêm à cabeça da maior parte do público são as produções da franquia Resident Evil. Adaptação dos games para as telas, portanto, não é uma novidade para eles.
Esse contexto é importante para avaliarmos Monster Hunter: custo a acreditar que um filme tenha chegado nessas condições às telas dos cinemas. Um roteiro frágil, efeitos especiais de qualidade duvidosa, problemas de montagem e até mesmo uma trilha sonora insistente e irritante são algumas das falhas passíveis de serem apontadas nesta adaptação.
Monster Hunter: uma caçada em busca de aspectos positivos
Não é fácil adaptar a franquia Monster Hunter para o cinema. O primeiro jogo, lançado em 2004, recebeu mais de uma dezena de lançamentos com o passar dos anos, mas a história e seus personagens nunca foram os principalis destaques.
A escolha da Capcom para levar essa franquia às telas, portanto, surpreende, mas não é surpresa que a empresa japonesa tenha escolhido Paul W. S. Anderson para esse trabalho.
Tendo passado por quatro filmes de Resident Evil (também da Capcom), o diretor inglês ajudou a moldar a o que é a franquia de zumbis nos cinemas (para o bem ou para o mal). Natural que se confiasse a quem tanta já extraiu da principal franquia da empresa um trabalho secundário, mas com orçamento respeitável na casa dos US$ 60 milhões.
Comecemos pelo roteiro, assinado pelo próprio diretor. Na trama, um grupo de soldados, comandados por Artemis (Milla Jovovich) vaga pelo deserto até que se depara com uma grande tempestade de areia. O fenômeno é, na verdade, um portal que leva o grupo para outra dimensão – um lugar inóspito e recheado de monstros gigantescos que fariam o maior dos dinossauros sentir medo.
Sem muitas explicações, o grupo e os espectadores são jogados às feras e o que se vê em diante são batalhas contra monstros do começo ao fim. Se por um lado essa ação é válida na premissa de entregar o que público espera, por outro o que acontece entre uma cena e outra nada mais é do que uma mera desculpa para que vejamos outra batalha.
Poucos diálogos e cenas de ação pontuadas por uma trilha sonora repetitiva e insensível – os mesmos acordes tocam antes de batalhas, depois de batalhas, em momentos de transição, em cenas de tensão, em cenas de alívio – tornam o filme cansativo já na sua primeira hora. Fica a expectativa do que possa se desenrolar, mas só piora.
Uma das piores adaptações dos games em décadas – e olhe que são muitas
Milla Jovovich é praticamente a estrela solo de Monster Hunter, mas seu propósito óbvio (entender o que aconteceu e voltar para casa) não se mostra convincente em momento algum. No caminho ela encontra com Hunter (Tony Jaa), um caçador local que não fala sua língua. A escolha aqui, ainda que óbvia, é contraproducente: praticamente eliminando a possibilidade de diálogo entre eles, as motivações de ambos não saltam aos olhos.
Não torcemos pelos personagens – contra ou a favor. A sensação que se tem é de indiferença, pois o conjunto – atuações, roteiro, trilha e montagem – não funciona. Aliás, falando em montagem, sobrepor trilha sonora em cenas que deveriam ter algum teor dramático – praticamente todas dos primeiros 15 minutos do filme – é uma péssima escolha.
Alguma coisa se salva. Os efeitos especiais utilizados para criar os monstros são, de fato, muito bem elaborados, fazendo com que eles soem verossímeis na maior parte do tempo. Porém, o mesmo não se pode dizer do uso da tela verde (chroma key). Em muitas cenas é nítido que o fundo é nada mais do que uma imagem estática – uma das sequências em que Dash salva Artemis no ar, já na parte final do filme, é o melhor exemplo. Em conclusão, mesmo onde o filme acerta, há defeitos evidentes que incomodam.
A lista de filmes baseados em jogos que chegaram ao cinema com qualidade duvidosa é extensa, mas seja como for, Monster Hunter assume uma posição de destaque nesse ranking. Chega a ser difícil acreditar que a produção tenha recebido tanta atenção e com um circuito tão grande de exibição em todo o mundo. E o final do filme, sem spoilers, é simplesmente uma aberração. Meu palpite: temos o primeiro grande candidato ao fracasso nas bilheterias em 2021.
Nota 4.
Sinopse
Em um missão pelo deserto, a Tenente Artemis e os seus leais soldados são vítimas de um fenômeno único: eles se transportam para um novo mundo através de um portal. Neste novo local eles se lançam numa batalha desesperada pela sobrevivência contra enormes monstros com poderes incríveis.
Resta agora ao grupo encontrar formas de sobreviver ao mesmo tempo em que buscam entender o que aconteceu para poder voltar para casa.
Ficha Técnica
- Título original: Monster Hunter.
- Origem/Ano: Alemanha, Japão, Estados Unidos, China, África do Sul e Canadá/2020.
- Direção: Paul W. S. Anderson.
- Roteiro: Paul W. S. Anderson, baseado no game de Kaname Fujioka.
- Produção: Paul W. S. Anderson, Dennis Berardi, Jeremy Bolt, Genevieve Hofmeyr, Robert Kulzer e Martin Moszkowicz.
- Fotografia: Glen MacPherson.
- Montagem: Doobie White.
- Música: Paul Haslinger.
- Elenco principal: Milla Jovovich (Artemis), Tony Jaa (Hunter), Ron Perlman (Almirante), T.I. (Lincoln), Diego Boneta (Marshall) e Meagan Good (Dash).
Curiosidades
A primeira exibição de Monster Hunter foi nos cinemas da Turquia em 3 de setembro de 2020. No Brasil, estreou nos cinemas em 25 de fevereiro de 2021.
O orçamento de Monster Hunter foi de US$ 60 milhões e o filme arrecadou pouco mais de US$ 42 milhões nas bilheterias.
O filme se baseia na franquia de jogos Monster Hunter, da Capcom, cujo primeiro jogo saiu em 2004. Desde então, mais de uma dezena de jogos da série de fantasia chegaram ao mercado.