Morte no Nilo

Morte no Nilo

Visual caprichado e ótima atuação de Kenneth Branagh não salvam Morte no Nilo da falta de ritmo

Não é fácil adaptar Agatha Christie para o cinema. Não que as suas obras sejam complexas, mas há um quê de mistério nos livros que faz a nossa imaginação preencher as lacunas, algo que até hoje não funcionou tão bem nas adaptações. Morte no Nilo é mais um exemplo disso.

Uma produção caprichada e com um elenco de grandes nomes, dos quais Kenneth Branagh (Hercule Poirot) é quem mais brilha, mas que peca pela falta de ritmo. A produção se excede em algumas contextualizações e acaba deixando no ar uma sensação de que algo ficou incompleto. Não é uma adaptação ruim, pelo contrário, mas as coisas não funcionam como o esperado.

Morte no Nilo: obra-prima de Agatha Christie

Assim como Assassinato no Expresso Oriente, Morte no Nilo é outro dos principais livros de Agatha Christie. A produção se mantém fiel à essência do livro, mas permite-se fazer alterações em personagens de forma a deixar o elenco mais conciso e menos confuso. Nesse sentido, o roteiro de Michael Green (Blade Runner 2049) acerta em simplificar as coisas.

Morte no Nilo

Entretanto, é na condução de Kenneth Branagh – também diretor – que parece residir o maior problema. Para apresentar melhor alguns aspectos de Poirot, a produção opta por contextualizar parte da sua personalidade explicando a origem de sua solidão com cenas de um episódio que se passa durante a Primeira Guerra Mundial.

Essas cenas, de fato, nos ajudam a compreender aspectos do personagem, mas pouco contribuem para a trama em si. Além disso, há sequências como a da apresentação dos personagens em um hotel de luxo que soam literárias demais. Em outras palavras, muito se fala e pouco se mostra enquanto a câmera desfila uma lista de apresentações.

Não dá tempo de entender cada um dos personagens

Ainda que contextualize um pouco sobre cada um dos personagens, na prática é difícil criar alguma empatia ou antipatia por alguns deles. Esse pingue-pongue em que ora um personagem está em foco, ora outro, pouco contribui para que a trama avance na primeira hora e acaba deixando Morte no Nilo monótono.

O diferencial, felizmente, fica por conta de algumas atuações. Kenneth Branagh (Hercule Poirot) é um show à parte, com uma condução de personagem que parece compreender o universo de Agatha Christie e nos apresentar um personagem tão misterioso, quanto excêntrico e carismático, de forma sublime.

Morte no Nilo

Emma Mackey (Jacqueline de Bellefort) e Letitia Wright (Rosalie Otterbourne) são outros dois ótimos exemplos de entrega a seus papéis. Emma consegue ir da sensualidade à loucura em uma transição muito bem conduzida, enquanto Letitia cria uma personagem imponente, com diálogos fortes, e que rouba a cena em alguns momentos.

Gal Gadot (Linnet Ridgeway) e Armie Hammer (Simon Doyle) têm atuações menos expressivas, mas convicentes. Já Tom Bateman (Bouc), destoa com um personagem mais expansivo, importante para a trama, mas cuja presença em cena parece passar despercebida, ainda que de certa forma ele sirva como fio condutor da história.

Um trabalho visual deslumbrante

Morte no Nilo é uma reconstrução visual de época deslumbrante. A produção se passa nos anos 40, no Egito, e explora não apenas pontos turísticos do país, como um hotel de luxo e um suntuoso barco que cruza o rio Nilo. Em cada peça de roupa, em cada ambiente, há uma preocupação com o nível detalhes que contribui de forma significativa para a imersão.

As escolhas fotográficas de Haris Zambarloukos (Belfast) contribuem para que o espectador lance um olhar contemplativo sobre a região. Há uma preocupação nítida em contrastar cores quentes – como ilustração para momentos em que o romance parece mais tórrida – com cores que “esfriam” à medida que mortes ocorrem.

Morte no Nilo

O desfecho, ainda que lance uma luz sobre os fatos, é taciturno e, em certa medida, reflete os sentimentos de todos os envolvidos – e, por que não dizer, as perspectivas de Hercule Poirot quanto a temas de cunho pessoal.

Sem o mesmo impacto da obra que o precede

Ainda que não seja um filme ruim, a falta de ritmo e o excesso de contextualização e apresentações fazem de Morte no Nilo uma produção sem muito destaque, no sentido de que certamente ela é “esquecível”. Diferentemente da obra original, que certamente deixa algum impacto no leitor e provoca, na pior das hipóteses, alguma reflexão sobre as conclusões.

Na versão cinematográfica, infelizmente, isso não ocorre. Não que seja simples descobrir quem é o assassino ou a motivação por trás das mortes, mas porque as revelações, que deveriam ser o ponto alta da trama, não parecem causar o impacto necessário. O que é uma pena, pois inegavelmente há muitos bons elementos reunidos, mas falta algo que dê liga e coloque a produção um patamar acima.

Nota 6.

Sinopse

As férias do detetive belga Hercule Poirot à bordo de um glamouroso cruzeiro no Egito se transforma em uma caçada a um assassino quando a lua de mel de um famoso casal é interrompida.

Ficha Técnica

  • Título original: Death on the Nile.
  • Origem/Ano: Estados Unidos, Reino Unido, 2022.
  • Direção: Kenneth Branagh.
  • Roteiro: Michael Green, baseado em livro de Agatha Christie.
  • Produção: Kenneth Branagh, Judy Hofflund, Ridley Scott e Kevin J. Walsh.
  • Fotografia: Haris Zambarloukos.
  • Montagem: Úna Ni Dhonghaíle.
  • Música: Patrick Doyle.
  • Elenco principal: Kenneth Branagh (Hercule Poirot), Gal Gadot (Linnet Ridgeway), Armie Hammer (Simon Doyle), Emma Mackey (Jacqueline de Bellefort), Tom Bateman (Bouc), Letitia Wright (Rosalie Otterbourne), Sophie Okonedo (Salome Otterbourne), Annette Bening (Euphemia Bouc), Rose Leslie (Louise Bourget) e Ali Fazal (Katchadourian).

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Curiosidades

Morte no Nilo estreou globalmente nos cinemas em 9 de fevereiro de 2022.

O orçamento de Morte no Nilo foi de US$ 90 milhões e o filme arrecadou pouco mais de US$ 137 milhões nos cinemas.

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