Apesar dos clichês, Russell Crowe e roteiro eficiente tornam O Exorcista do Papa boa opção de terror
Pense em todos os clichês que você possa imaginar em filmes de terror relacionados a exorcismo. O Exorcista do Papa tem todos eles, e nem por isso o filme pode ser considerado ruim. Um roteiro com bons pontos de virada e uma atuação carismática de Russell Crowe tornam a produção diferenciada da maioria dos filmes do gênero que vemos por aí.
Baseada em fatos reais, a produção tem direção de Julius Avery (Samaritano) e aposta em três elementos principais para o sucesso: o carisma de Russell Crowe como protagonista; um roteiro baseado em elementos polêmicos; e bons efeitos especiais nas cenas finais. O conjunto funciona bem o resultado, apesar de nada inovador, é um filme eficiente.
Russell Crowe bastante à vontade na tela
Inegavelmente, a maior atração de O Exorcista do Papa é Russell Crowe. Aqui, o ator neozelandês é Gabriel Amoth, padre exorcista diretamente ligado ao Vaticano – e que escreveu diversos “bons livros” sobre o tema. O fato de trabalhar com exorcismos, algo reprovado pela Igreja Católica e questionado logo nos primeiros minutos de filme, se justifica posteriormente, à medida que ele reporta diretamente ao papa suas descobertas.
Os incidentes o levam ao interior da Espanha, onde uma família recém-chegada à cidade sofre com a possessão demoníaca de uma das crianças. Henry (Peter DeSouza-Feighoney), fazendo as vezes de demônio, quer um confronto direto com Gabriel, naquele que promete ser o embate definitivo da vida do religioso.
É impossível olhar para a tela e não ver que estamos diante de Russell Crowe. Sua presença diante dos demais se destaca com muita naturalidade. Além de sua presença em cena, seu personagem alterna humor e força, de modo que cena após cena não sabemos se ele contará uma piada ou se vai sair no braço com um demônio. O personagem enriquece o filme e o torna mais interessante.
Costurando uma trama com fundamento histórico
Histórias reais à parte, o roteiro da dupla Michel Petroni (A Menina Que Roubava Livros) e Evan Spiliotopoulos (Rogai Por Nós), acerta ao incluir elementos históricos que dão mais credibilidade à trama. Não vou revelá-los aqui para não dar spoilers, mas dentro do contexto de O Exorcista do Papa, faz sentido que eles levem a um confronto sem precedentes envolvendo Amorth e o demônio.
Apesar disso, a história demora um pouco para engrenar, e algumas sequências parecem se repetir sem necessidade. Se por um lado isso nos permite conhecer melhor os personagens, especialmente Padre Esquibel (Daniel Zovatto), que terá papel importante na trama, por outro torna as coisas um pouco entediantes, principalmente no segundo terço da projeção.
Ao trazer à tona a culpa e os maiores medos dos seus protagonistas, forçando-os a confessarem suas maiores angústias, a trama brilha. O filme consegue enriquecer a percepção que temos de bem e mal, dando um viés psicológico de reflexão ao exorcismo em si. Tudo isso ocorre de forma simples e direta, o que tem seus méritos.
Efeitos especiais convincentes garantem o clímax
Se nas duas primeiras partes do filme os clichês dão o tom – barulhos pela casa, móveis que se arrastam sozinhos, crucifixos que caem, e assim por diante –, no último ato as coisas mudam de figura. O confronto entre Amorth e o demônio, que se inicia no quarto de Henry e termina nas catacumbas de uma igreja é marcante. A combinação perturbadora de efeitos sonoros e visual infernal funciona de forma imponente.
Ainda que soe “mais do mesmo”, O Exorcista do Papa se destaca do deserto de ideias que permeia a maioria das produções do gênero, especialmente se considerarmos os lançamentos diretamente em streaming. A produção está longe de ser esquecível, mas dificilmente terá apelo para iniciar uma franquia, ainda que o diretor tente plantar essa sementinha nos instantes finais.
Confesso que fui sem expectativas e me surpreendi positivamente. Definitivamente, vale dar uma chance para a produção nos cinemas.
Nota 7.
Sinopse
Inspirado nos arquivos reais do Padre Gabriele Amorth, Exorcista do Vaticano que realizou mais de 100 mil exorcismos em sua vida. Ele faleceu em 2016 aos 91 anos. Amorth escreveu dois livros de memórias e detalhou suas experiências lutando contra Satanás e demônios.
O filme acompanha Amorth enquanto ele investiga a terrível possessão de um menino e acaba descobrindo uma conspiração secular que o Vaticano tentou desesperadamente manter no esquecimento.
Ficha Técnica
- Título original: The Pope’s Exorcist.
- Origem/Ano: Estados Unidos/2023.
- Direção: Julius Avery.
- Roteiro: Michael Petroni e Evan Spiliotopoulos, baseado em livros de Gabriele Amorth.
- Produção: Doug Belgrad, Michael Patrick Kaczmarek e Jeff Katz.
- Fotografia: Khalid Mohtaseb.
- Montagem: Matt Evans.
- Música: Jed Kurzel.
- Elenco principal: Russell Crowe (Padre Gabriele Amorth), Franco Nero (Papa), Ralph Ineson (Demônio), Alex Essoe (Julia), Daniel Zovatto (Padre Esquibel), Peter DeSouza-Feighoney (Henry), Bianca Bardoe (Rosaria) e Paloma Bloyd (Intérprete).
Curiosidades
O Exorcista do Papa estreia globalmente nos cinemas em 6 de abril de 2023.