Documentário mostra influência do estilista francês em todo o mundo e a forma como sua ousadia mudou a alta costura para sempre
Ainda que o nome Pierre Cardin seja hoje conhecido em todo o mundo e que a personalidade do estilista italiano/francês seja extremamente marcante, ele sempre optou por se manter longe dos holofotes quando o assunto era sua vida pessoal. Por essa razão, O Império de Pierre Cardin é uma oportunidade rara de conhecer um pouco mais sobre um homem que moldou costumes no século XX em todo o mundo.
O documentário dirigido por P. David Ebersole e Todd Hughes (Mansfield 66/67) foi lançado em 2019, mas somente agora chega aos cinemas brasileiros. Curiosamente – e infelizmente –, 16 dias após a morte do icônico costureiro, considerado pelos franceses um dos homens mais importantes da cultura do país.
Pierre Cardin: o homem que levou a alta costura às massas
As peças da alta costura sempre se caracterizaram pela exclusividade: custam caro e são para poucos. Cardin quis ir além disso e colocou seu nome em peças mais “mundanas”, como jeans que usamos no dia a dia e em uma linha completa de produtos licenciados. Do Ocidente ao Oriente, mais de 63 países comercializavam seus produtos – ainda que seus concorrentes torcessem o nariz para esse tipo de estratégia.
Elegante, ousado, porém discreto em sua vida pessoal, vê-lo diante das câmeras trabalhando e lúcido aos 96 anos é prazeroso. Nota-se pelas suas falas um grau de clareza e consciência em cada ato e em cada gesto. Diferentemente de outras companhias, todas construídas a partir de departamentos de marketing e com diversas marcas sob o guarda-chuva, Cardin permaneceu independente por toda a sua trajetória – o que muitos acreditavam não seria possível.
Confesso que não conhecia tanto sobre o personagem Cardin e foi fascinante descobrir certas nuances evocadas em seus trabalhos, iniciativas e, principalmente, nas estratégias que utilizou para tornar seu nome conhecido em todo o mundo. Por si só, O Império de Pierre Cardin já é válido como uma aula de negócios para aqueles que estudam o tema.
Clima de desfile de moda
Porém, nem tudo são flores. Se Ebersole e Hugges conseguem dar ao filme um clima de “desfile de moda”, com momentos da vida de Cardin e depoimentos de pessoas próximas passando pela tela ilustrando aspectos peculiares da vida do artista, por outro lado não há como escapar da sensação de que ele faz mais uma espécie de “assessoria de imprensa” do que qualquer outra coisa.
Sempre desconfio de documentários nos quais a personalidade principal é retratada como uma pessoa perfeita, sem erros. Aqui, todos os que aparecem diante das câmeras o fazem apenas para tecer elogios a Cardin. Não que ele não os mereça – não entro nesse mérito –, mas a falta de dualidades faz com que, aos olhos do documentário, ele acabe de tornando uma personagem linear, algo pouco provável dada a sua trajetória.
A narrativa cronológica é especialmente interessante na primeira parte do filme, quando entendemos a maneira pela qual ele se tornou um estilista e chegou a ser apadrinhado por Christian Dior antes de abrir sua própria maison. Foi um visionário ao enxergar possibilidades de expansão onde outros viam apenas uma desvalorização da marca. Foi global antes da globalização.
Talvez se optasse por se aprofundar mais nos relacionamentos amorosos ou mesmo nas principais amizades de Cardin o longa obtivesse um material ainda mais rico. Presumo que houve controle no tipo de informação que poderia ser veiculada, contribuindo para que o filme funcionasse mais como um passeio agradável pela trajetória do estilista do que trouxesse alguma grande revelação.
Burocrático, mas informativo, O Império de Pierre Cardin sacia muitas curiosidades do público sobre a visão do homem por trás do negócio. Porém, a nossa visão sobre ele fica limitada às informações controladas apresentadas aqui. Funciona pela importância da personalidade, mas deixa no ar a sensação de que alguma coisa ficou faltando.
Nota 7.
Sinopse
Uma viagem pela mente do estilista francês Pierre Cardin, um dos principais nomes da história da alta costura mundial. Os produtores tiveram acesso exclusivo aos seus arquivos e seu império, com entrevistas inéditas que ilustram uma gloriosa carreira.
Ficha Técnica
- Título original: House of Cardin.
- Origem/Ano: Estados Unidos, França/2019.
- Direção: P. David Ebersole e Todd Hughes.
- Roteiro: P. David Ebersole e Todd Hughes.
- Produção: Cori Coppola, P. David Ebersole, Todd Hughes e Jacqueline Levine.
- Fotografia: Laurent King.
- Montagem: Brad Comfort e Mel Mel Sukekawa Mooring.
- Música: James Peter Moffatt.
- Elenco principal: Documentário.
Curiosidades
O Império de Pierre Cardin foi exibido pela primeira vez no Festival de Veneza, na Itália, em 6 de setembro de 2019. No Brasil estreou nos cinemas brasileiros em 14 de janeiro de 2021.
Pierre Cardin faleceu em 29 de dezembro de 2020. O documentário O Império de Pierre Cardin estreou no Brasil 16 dias depois.