O Urso do Pó Branco é uma grande bobagem, mas arranca risos por abraçar o absurdo
Um urso consome sem querer doses cavalares de cocaína e, de forma insana, passa a perseguir quem aparece pela frente em um parque florestal, ao mesmo tempo que busca mais droga. Essa é a sinopse absurda de O Urso do Pó Branco, filme trash que vem se mostrando um sucesso nas bilheterias nos Estados Unidos.
A direção é de Elizabeth Banks (As Panteras), em seu primeiro trabalho no gênero. Mesmo deixando claro o tom de galhofa e não se levando a sério em momento algum, o filme acaba se mostrando falho por se apoiar em personagens completamente estúpidos em sua maioria. Se por um lado suaviza a violência, por outro distrai ao não fazer com que o espectador crie empatia com ninguém.
Baseado em fatos reais, mas não é bem assim
O roteiro de O Urso do Pó Branco, escrito por Jimmy Warden (A Babá: Rainha da Morte), se baseia e um história real. De fato, em uma floresta nos EUA, um urso ingeriu quantidades enormes de cocaína acidentalmente, mas morreu logo depois. Esse gancho é a desculpa para o desenvolvimento da história sobre o que aconteceria se ele ficasse incontrolável.
Apesar desse chamariz, já nos créditos iniciais a produção deixa claro que as informações que veremos dali em diante não merecem confiança. Para justificar que os ursos “não atacam pessoas”, a fonte creditada da informação é a Wikipédia, num sinal claro de que o filme seguirá o estilo “se está na internet, é verdade”.
Para justificar a matança, diversos núcleos de história são formados e, em dado momento, se encontram de alguma forma. Alguns convencem – como o de Sari (Keri Russell) em busca da filha Dee Dee (Brooklynn Prince) ou de Daveed (O’Shea Jackson Jr.) e Eddie (Alden Ehrenreich) em busca das drogas perdidas a mando de Syd (Ray Liotta).
Contudo, outros, são tão patéticos e tolos que chegam a incomodar, tamanho é o aspecto caricato da situação. É o caso dos núcleos de Liz (Margo Martindale) e Peter (Jesse Tyler Ferguson) e do trio de trombadinhas que age no parque. Mesmo em um filme trash, que abusa do absurdo, eles conseguem soar bobos e deslocados.
Ação sem nenhum compromisso
Ainda que tenha um fiapo de história, ela não parece suficiente para justificar qualquer coisa que seja. A impressão que se tem é que alguém teve a ideia do filme em uma roda de amigos – e ela é de fato ótima –, mas seu desenvolvimento não teve corpo suficiente para aguentar os pouco mais de 90 minutos.
As cenas de ação, ora sanguinárias, ora cômicas, funcionam melhor. Com bons efeitos especiais, algumas situações chamam bastante a atenção, como a perseguição da ambulância pelo urso ou o duelo no gazebo evolvendo Daveed e Bob (Isiah Whitlock Jr.) e, claro, o urso.
Como explicar o sucesso?
Com uma abertura na casa dos US$ 60 milhões nos Estados Unidos, O Urso do Pó Branco se tornou um dos cinco filmes de maior sucesso no primeiro trimestre de 2023. A explicação para isso está no hype criado em torno da ideia, muito bem vendida pelo trailer (que você vê abaixo). É o típico conteúdo com potencial para viralizar em redes sociais.
O sucesso foi tanto que novos filmes do subgênero “animais enlouquecidos” podem estar a caminho. É o caso de Attack of the Meth Gator, algo como O Ataque do Jacaré da Metanfetamina, anunciado para breve pela produtora The Asylum, conhecida por filmes pouco convencionais como Sharknado e Ataque do Tubarão Mutante.
Apesar de todos os seus problemas, e da baixa qualidade proposital das situações, O Urso do Pó Branco ainda arranca algumas poucas risadas – e explora menos o gore do que se poderia imaginar – são “apenas” duas cenas com um pouco mais de banho de sangue.
Não é uma decepção, mas não há muito a elogiar
Mesmo dentro do seu gênero, O Urso do Pó Branco é um filme mediano. Em suma, é uma boa ideia, tecnicamente bem executada, mas completamente esquecível. Creio que o hype que precede o filme é mais eficiente do que o filme em si.
Contudo, ele não chega a ser uma decepção, pois quem vai ao cinema ver algo assim sabe exatamente o que esperar, não é mesmo? O filme me lembrou muito Anaconda, outra franquia do gênero que fez grande sucesso nos cinemas, mas sem entregar algo de muita qualidade.
De qualquer forma, O Urso do Pó Branco acrescenta pouco e deixa no ar a sensação de que não valeu a pena.
Nota 5.
Sinopse
A história real sobre a queda do avião de um traficante de drogas, que estava carregado com um lote de cocaína que acabou sendo consumido por um urso de mais de 220kg.
Após consumir a droga, o animal parte para a violência, com uma fúria movida a coca, em busca por novas presas e sede de sangue. Em paralelo, um grupo excêntrico de policiais, criminosos, turistas e adolescentes, estão a caminho ou já no território de uma floresta da Georgia.
Ficha Técnica
- Título original: Cocaine Bear.
- Origem/Ano: Estados Unidos/2023.
- Direção: Elizabeth Banks.
- Roteiro: Jimmy Warden.
- Produção: Elizabeth Banks, Brian Duffield, Max Handelman, Phil Lord, Christopher Miller e Adytia Sood.
- Fotografia: John Guleserian.
- Montagem: Joel Negron.
- Música: Mark Mothersbaugh.
- Elenco principal: Keri Russell (Sari), Alden Ehrenreich (Eddie), O’Shea Jackson Jr. (Daveed), Ray Liotta (Syd), Isiah Whitlock Jr. (Bob), Brooklynn Prince (Dee Dee) e Christian Convery (Henry).
Curiosidades
O Urso do Pó Branco estreou nos cinemas dos Estados Unidos em 24 de fevereiro de 2023. No Brasil, estreia nos cinemas no dia 30 de março de 2023.