Roteiro fraco se sustenta com humor voluntário e o talento da dupla Marcus Majella e Samantha Schmutz
Marcus Majella definitivamente é um dos nomes fortes do humor no cinema brasileiro recente. Boas atuações em filmes como Um Tio Quase Perfeito o credenciaram para Os Salafrários, projeto no qual praticamente divide todo o tempo de tela com Samantha Schmutz (Minha Mãe é Uma Peça 2), outro nome no qual vale a pena ficar de olho.
Ambos se esforçam muito, mas o roteiro fraco da produção acaba por torná-la previsível e forçada em alguns momentos. As melhores risadas estão nos momentos involuntários em que vemos alguma situação irônica saltando aos olhos. O resultado é um filme mediano, mas que consegue entreter sem chegar a ser um incômodo.
Um road movie de golpes bem-humorados
Clóvis (Marcus Majella) é um golpista inveterado que vive de aplicar golpe em cima de golpe. Porém, ele cruza todos os limites quando vende o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, para empresários influentes que decidem dar o troco. Ameaçado, ele foge e no caminho encontra a irmã, Lohane (Samantha Schmutz), que está desesperado por ter tido seu food truck confiscado pela polícia.
A partir dessa trama, ambos caem na estrada tentando sobreviver às custas de golpes. Aqui, há um certa engenhosidade em apresentar para o público uma grande variedade de trapaças, em lojas, hotéis e demais estabelecimentos, sempre com picaretagens plausíveis, “inocentes”, mas que são suficiente para manter a dupla alimentada, com boas roupas e lugar confortável para dormir.
É uma pena que o humor factual, ou seja, as cenas nas quais ambos são colocados, nem de longe sejam interessantes. É no diálogo entre Clóvis e Samantha que o filme se segura, pois as sequências teimam em ser mostradas de formas pouco atrativas. Quando muito, o que ocorre é uma espécie de humor involuntário, que acaba sendo mais interessante em si do que o contexto.
Um bom exemplo disso é uma cena em um banco, quando Clóvis tenta trocar um cheque rasurado. A maneira como ele incita uma revolta dos clientes na fila, desembocando em um discurso de crítica social bastante válido, é uma grata surpresa – e se torna mais divertida do que o perrengue em si da cena proposta.
O jeitinho brasileiro levado ao extremo
Os Salafrários é muito mais interessante naquilo que se propõe a ser e denuncia do que na história em si – e isso tem um lado bom e o lado ruim. O lado bom é que mesmo apesar do roteiro fraco, a boa atuação da dupla e o subtexto que apresenta nas principais cenas são suficientes para garantir um trabalho razoável.
O lado ruim é que fica a sensação de uma boa proposta que não foi explorada tanto quanto poderia. Pedro Antonio Paes (Um Tio Quase Perfeito), é capaz de trabalhos melhores, como os próprios Um Tio Quase Perfeito 2 e Tô Ryca!
No balanço final, há mais acertos do que erros. Há pequenos lampejos irônicos e dramáticos que conseguem acender o espectador novamente, a ponto de tirar aquele sorriso no canto do rosto. Com um roteiro mais bem elaborado, Os Salafrários tem potencial para ser mais interessante em uma possível sequência. O universo estabelecido é um ótimo ponto de partida, e talento não falta para a dupla.
Nota 6.
Sinopse
Clóvis é um golpista profissional que atua falsificando obras de arte. Quando ele dá um golpe e vende o Cristo Redentor, se torna procurado pela polícia e precisa fugir do Rio de Janeiro. Na fuga ele encontra Lohane, sua irmã, que está passando por dificuldades após ter tido seu trailer de hambúrguer confiscado pela polícia.
Juntos, a dupla tentará aplicar mais diversos golpes para mudar de vida, ao mesmo tempo em que arrumam diversas confusões e enfrentam situações hilariantes e constrangedoras.
Ficha Técnica
- Título original: Os Salafrários.
- Origem/Ano: Brasil/2021.
- Direção: Pedro Antônio Paes.
- Roteiro: Fil Braz.
- Produção: Mayra Lucas.
- Fotografia: Ricardo Diaz.
- Montagem: Julio Costantini.
- Música: -.
- Elenco principal: Marcus Majella (Clóvis) e Samantha Schmutz (Lohane), .
Curiosidades
Lançado diretamente no serviço de streaming Netflix em 18 de fevereiro de 2022.