Despretensioso e ingênuo, Shazam! Fúria dos Deuses é uma aventura de Sessão da Tarde
Ironicamente, há muitas semelhanças entre a ingenuidade de Billy Batson (Asher Angel) e as decisões que a DC Comics tomou em relação aos seus personagens nos últimos anos. E, curiosamente, Shazam! Fúria dos Deuses é um dos poucos acertos a serem incluídos nessa análise.
A sequência de Shazam!, que estreia nesta semana nos cinemas, é um filme despretensioso e, até certo ponto ingênuo. Entretanto, ciente de suas limitações e com uma proposta mais clara, acaba se tornando um acerto, resultando em um filme familiar agradável, que certamente terá espaço na grade de matinês e sessões da tarde.
Shazam deu certo nos cinemas
Superman, Batman, Liga da Justiça… Não foram poucos os projetos da DC que ficaram pelo caminho e não terão sequência com os mesmos atores. Diferentemente do que a Marvel conseguiu fazer, o “Universo DC” não conseguiu dar liga nos cinemas de forma combinada. O resultado é que temos filmes muito distintos entre si e que parecem incapazes de se unir.
Shazam é diferente disso. Assim como no primeiro filme, aqui temos um ponto de vista mais bem-humorado, com um personagem principal desastrado e ciente de que não sabe o que fazer com o poder que tem em mãos. Shazam! Fúria dos Deuses dá sequência à história do filme de 2019.
Após Billy Batson adquirir os poderes do mago Shazam, toda sua família adotiva passa a compartilhar de superpoderes. Vemos uma certa harmonia na vida deles de combate ao crime, até que deusas misteriosas de outra dimensão decidem vir à Terra para recuperar o cajado mágico e, claro, se vingar.
A DC é como Shazam: não sabe o que fazer com seus poderes
A ironia aqui é que, assim como Shazam, a DC não tem consciência do poder que tem em mãos. Em uma tentativa vã de controlar todo o universo dos seus personagens – característica que também é de Batson em relação à sua família – ela se esquece de que cada uma tem a sua importância, à sua maneira.
Por ter uma proposta mais clara desde a primeira produção, ainda que ela não combine com o restante do universo DC, Shazam funciona, ainda que de forma mais singela. O “patinho feio” entre os filmes de super-herói, curiosamente, é o que melhor se desenvolve e um dos que mais entretém, e no final das contas os pontos positivos são mais numerosos do que os negativos.
Vilãs de Shazam! Fúria dos Deuses dão um bom balanço à trama
Apesar dos bons efeitos especiais, construídos com um orçamento menor do que o de filmes como Adão Negro, por exemplo, e mais verossímeis, há falhas, é claro. O excesso de personagem, característica cada vez mais recorrente em continuações de filmes de super-herói, faz com que não seja possível desenvolver de maneira satisfatória as histórias de cada um deles, deixando muitas pontas soltas.
Outro mérito de Shazam! Fúria dos Deuses está na escolha das atrizes que interpretam as vilãs. Helen Mirren (Hespera) e Lucy Liu (Kalypso), claramente dão um tom de maior qualidade às atuações. Rachel Zegler (Anthea) destoa, mas não compromete. Contudo, há um abismo nas cenas de diálogos entre ela e Helen que é impossível passar despercebido, e pode incomodar.
Um marketing falho – mais uma vez
Dois aspectos foram ressaltados em materiais de divulgação da DC relacionados à Shazam! Fúria dos Deuses e, na minha opinião, são bastante falhos. O primeiro é o que se noticiou, de que o filme teria o primeiro personagem gay do universo DC. De fato, Pedro Peña/sua versão super (Jovan Armand/D. J. Cotrona) se assumem em dado momento.
Esse aspecto, é claro, é irrelevante para a trama, mas o personagem em si não é explorado de forma alguma, de maneira que conhecemos pouco ou quase nada sobre ele, o que me parece uma oportunidade perdida.
Além disso, vídeos divulgados na véspera do lançamento mostram a aparição de uma super-heroína na trama que chama a atenção e induz o público a ir ao cinema para poder vê-la – você sabe de quem estou falando, se não sabe clique no link para ver um spoiler. Contudo, são pouquíssimos minutos dela em cena, ainda que com papel fundamental. Não vou negar, deixa no ar uma sensação de frustração.
Shazam é um universo que deveria ir adiante
Problemas à parte, Shazam! Fúria dos Deuses, a exemplo de Shazam!, também dirigido por David F. Sandberg, funciona. Trata-se de um filme acessível, divertido, com bons efeitos especiais, mas simples na sua proposta. Ingênuo, talvez, seja a melhor palavra para defini-lo, e não há problema nenhum nisso. Certamente, tem o seu público e atende às suas necessidades.
Gostaria muito de ver uma continuação dessa história, pois material não falta para ser explorado. Entretanto, ainda que a bilheteria seja satisfatória, em se tratando de DC e suas incertezas com relação ao futuro, talvez estejamos diante de mais uma franquia que não seguirá adiante simplesmente pelo fato de que a DC não sabe o que fazer com os ótimos produtos que tem em mãos.
Nota 6.
Sinopse
Agraciado com os poderes dos deuses, Billy Batson e seus irmãos adotivos ainda estão aprendendo a conciliar a vida adolescente com alter egos de super-heróis adultos.
Mas quando as Filhas de Atlas, um trio vingativo de deuses antigos, chegam à Terra em busca da magia roubada deles há muito tempo, Billy – também conhecido como Shazam – e sua família são lançados em uma batalha por seus superpoderes, suas vidas e o destino de seu mundo.
Ficha Técnica
- Título original: Shazam! Fury of the Gods.
- Origem/Ano: Estados Unidos/2023.
- Direção: David F. Sandberg.
- Roteiro: Henry Gayden e Chris Morgan, baseado em personagens criados por Bill Parker e C. C. Beck.
- Produção: Peter Safran.
- Fotografia: Gyula Pados.
- Montagem: Michel Aller.
- Música: Christophe Beck.
- Elenco principal: Helen Mirren (Hespera), Zachary Levi (Shazam), Grace Caroline Currey (Mary Bromfield / Superhero Mary), Lucy Liu (Kalypso), Rachel Zegler (Anthea), Adam Brody (Super Hero Freddy), Meagan Good (Super Hero Darla), Jack Dylan Grazer (Freddy Freeman) e Djimon Hounsou (Shazam).
Curiosidades
Shazam! Fúria dos Deuses estreou globalmente nos cinemas em 16 de março de 2023.
Segundo filme da série. O anterior foi Shazam! (2019).