Tempos de Barbárie: Ato 1 – Terapia da Vingança é reflexão válida sobre “olho por olho, dente por dente”
Depois de ver sua filha ser baleada em um assalto, a advogada Carla (Cláudia Abreu) não se conforma com a situação e a falta de respostas e decide fazer justiça com as próprias mãos. Essa é a principal premissa de Tempos de Barbárie: Ato 1 – Terapia da Vingança.
Dirigido por Marcos Bernstein (Central do Brasil), a produção mistura elementos de ação e suspense e consegue não apenas cativar o espectador com a trama, mas despertar alguma reflexão sobre o desejo de vingança e pensamento “olho por olho, dente por dente”. Vale a pena ir até às últimas consequências por vingança?
Tempos de Barbárie: reflexos de uma sociedade doente
Ainda que a violência pareça estar em toda parte, em Tempos de Barbárie: Ato 1 – Terapia da Vingança, Bernstein se concentra naquela que não depende diretamente de cada um de nós. A violência das ruas, com assaltos à mão armada; a violência policial, sem um mínimo de compaixão pelas vítimas; a violência da própria polícia, ora cúmplice, ora mandante alimentando ainda mais violência.
Neste primeiro ato – há planos para uma trilogia sobre a violência no Brasil – há alguns problemas a serem considerados. O primeiro, e mais importante de todos, é com relação ao estilo e à narrativa. Em alguns momentos a proposta é reflexão, em outros, ação. Porém, infelizmente, nenhuma delas soa efetivamente crível.
Mesmo quando tem diante de si declarações fortes o suficiente para elevar a carga dramática, a direção opta por conduzir as coisas de um jeito “surpreendente” que, ao contrário, torna a trama mais inverossímil. Um bom exemplo disso é o de uma das sequências finais, quando tendo diante de si alguns criminosos, Carla opta por uma espécie de tortura, em vez de consumar o que busca.
Terapia de Vingança: até onde vale a Lei do Talião
“Olho por olho, dente por dente”. A Lei do Talião, nascida no Código de Hamurabi, até hoje de aplica, ainda que de forma extraoficial. Carla, tentando entender o que ocorreu, e diante do desinteresse da polícia em resolver o caso, busca respostas em duas vias: em um grupo de terapia e buscando vingança com as próprias mãos.
No grupo, ela ouve que não vale a pena alimentar os sentimentos de vingança, e que a vida deve seguir. O problema é que, aparentemente, para aqueles que optaram por esse caminho, a vida não seguiu, ao menos da mesma forma. As feridas não sumiram e as marcas do passado não se apagaram.
Por outro lado, a vingança imediata, com iminente resultado, parece satisfazer os desejos de vingança em um primeiro momento. Porém, se mostra tão “vazia” quanto o falso perdão, pois uma vez concretizada, deixa marcas tão permanentes quanto. Não há resposta certa.
A proposta cinematográfica de Tempos de Barbárie
Cinematograficamente falando, Tempos de Barbárie: Ato 1 – Terapia da Vingança tenta se estabelecer como um filme de ação, mas ainda que traga sequências em um estilo mais “hollywoodiano”, elas não funcionam muito bem. Por outro lado, a reflexão que se busca, ainda que em segundo plano, funciona um pouco melhor e poderia ser mais bem explorada.
Assim, temos um filme de meios-termos: a ação proposta não empolga; a reflexão proposta funciona, mas é pouco explorada – e logo transformada em ação. Sem um contraponto mais claro, fica a impressão de que, de alguma forma, a vingança tem o seu valor.
Para um diretor que tem em seu currículo um trabalho como Central do Brasil, recheado de sutilezas, é de admirar que aqui não tenha acertado a mão. De qualquer forma, um trabalho interessante.
Nota 7.
Sinopse
Durante uma tentativa de assalto, a filha da advogada Carla é baleada e fica em estado grave. Sem respostas, Carla tenta seguir a vida buscando ajuda em grupos de apoio. Sem conseguir aceitar o destino da filha e a falta de soluções por parte da polícia, transforma a busca por justiça em uma procura por vingança e testa o seu próprio limite para ver até onde poderia ir.
Ficha Técnica
- Título original: Tempos de Barbárie: Ato 1 – Terapia da Vingança.
- Origem/Ano: Brasil, 2023.
- Direção: Marcos Bernstein.
- Roteiro: Marcos Bernstein, Victor Atherino e Paulo Dimantas.
- Produção: Katia Machado, Alex Mehedff, Gualter Pupo, Luis Vidal e Marcos Bernstein.
- Fotografia: Gustavo Hadba.
- Montagem: Tainá Diniz, Danilo Lemos e Marcelo Moraes.
- Música: Lucas Marcier, Fabiano Krieger e Rogério da Costa Jr.
- Elenco principal: Cláudia Abreu (Carla), Júlia Lemmertz, Alexandre Borges, César Melo, Kikito Junqueira, Pierre Santos, Adriano Garib, Claudia Di Moura, Roberto Frota e Giovanna Lima.
Ação | Suspense | Assista nos cinemas
Curiosidades
Tempos de Barbárie: Ato 1 – Terapia da Vingança estreou nos cinemas brasileiros em 17 de agosto de 2023.