Transformers: A Vingança dos Derrotados

Transformers: A Vingança dos Derrotados e a destruição frenética e giratória de Michael Bay

Transformers: A Vingança dos Derrotados

Michael Bay, diretor de Transformers: A Vingança dos Derrotados, está longe de ser um derrotado. Os Bad BoysPearl HarborArmageddon e Transformers: O Filme, alguns dos seus filmes anteriores, se revelaram grandes sucessos de bilheteria e foram responsáveis por render milhões de dólares ao bolso dos seus produtores.

Tamanho sucesso não foi construído pela qualidade de seus filmes. Muito pelo contrário. Ao longo dos anos, Bay acumula produções de qualidade duvidosa e histórico de cenas de explosões, tiros e violência coreografada (na maioria das vezes sem muito propósito). Se deixarmos de lado o quesito bilheteria e colocarmos na mesa o critério qualidade, sem dúvida, o novo Transformers: A Vingança dos Derrotados é a bomba maior que satisfaz todos os desejos explosivos do diretor.

Transformers em ritmo frenético

O ritmo de Transformers: A Vingança dos Derrotados é frenético. Em menos de três minutos o espectador já está envolvido com batalhas de robôs gigantescos, muito bem construídos, diga-se de passagem. Contudo, exibidos de uma forma completamente nauseante. As cenas de transformação dos veículos em robôs são confusas e apresentadas em sua maioria por uma câmera em um travelling que dá ânsia. Ela gira em torno do personagem como se o estivesse construindo, a quase todo instante.

Transformers: A Vingança dos Derrotados

Para tentar explicar a luta entre Autobots e Decepticons em pleno século XXI, o filme remete a milhares de anos antes, quando da chegada dos alienígenas no planeta Terra. Depois dos eventos do primeiro Transformers, os Autobots se tornaram aliados das forças armadas norte-americanas, numa agência chamada NEST. Porém, o vínculo com o jovem Sam Witwicky (Shia Labeouf) se mantêm graças a um pequeno pedaço de um poderoso artefato que permanece com o rapaz.

Com a ação toda focada nas lutas e no visual dos robôs, o filme apresenta seus personagens humanos como meros fios condutores de um trama que não parece saber ao certo onde quer chegar. Aliás, a apresentação dos personagens é, entre todos, o aspecto mais infeliz do filme.

No mundo de Michael Bay as faculdades se parecem com escolas de modelos. Repare que, em uma sala de aula lotada, todas as mulheres, sem exceção, poderiam estar concorrendo à coroa de miss-qualquer-coisa. Em todas as cenas onde as mulheres aparecem elas são apresentadas de maneira sexy, vulgar, insinuante ou estúpida. Pois uma visão machista é o que se serve.

Entre sequências bobas e muita superficialidade

As seqüências onde a mãe de Sam, Judy Witwicky (Julie White) chora ao encontrar os sapatinhos do filho da época em que ele era pequeno ou ao ingenuamente comer bolinhos de maconha no campus da faculdade são tão estúpidas e ridículas que chega ser difícil a acreditar que alguém em sã consciência as tenha incluído no roteiro.

Transformers: A Vingança dos Derrotados

Já Mikaela Banes (Megan Fox) parece emprestar apenas o seu (belíssimo) corpo para a composição do personagem. Sua atração na trama é posar de quatro sobre uma moto, trabalhar em uma oficina mecânica com os lábios melados de um batom vermelho carregado ou fazer caras e bocas e meio às inúmeras explosões das quais foge.

Aliás, pela estrutura do roteiro e do filme, se substituíssemos todos os atores por modelos e atletas certamente teríamos um resultado muito parecido, já que basicamente o que se vê são insinuações sexuais e corridas para desviar de destroços e bombas.

O relacionamento entre os personagens é tão superficial que, na sequência em que Sam se despede de Mikaela, no jardim de sua casa, pouco antes de ir para a faculdade, basicamente a sustentação é feita em cima de uma música romântica e de uma câmera giratória irritante. A história é tão incipiente até aquele ponto que, não fossem os recursos mal aplicados pelo diretor, ficaria ainda mais óbvio o grau de irrelevância da seqüência.

Um mundo repleto de idiotas

Na faculdade, o alvo maior do diretor são os estudantes comuns ou os nerds. Eles são apresentados como idiotas viciados em tecnologia, covardes e preocupados apenas em postar em primeira mão o vídeo do momento em seus blogs. Mais adiante quem também não foge ao estereótipo são os soldados egípcios, retratados na figura de um comandante anão desajeitado que se limita a sorrir e agir como um capacho quando percebe que está diante de “yankees”.

Transformers: A Vingança dos Derrotados

Nem a personalidade dos robôs escapa às falhas. Desta vez temos robôs que sentem dor (!?), robôs piadistas e que brigam entre si e, pasmem, robôs que se masturbam aos pés das mulheres. Além disso, um dos “transformers”, de maneira absurdamente mal explicada, consegue se passar também por uma mulher (que, obviamente, sai em busca de sexo).

Com tantas falhas, a história acaba recaindo em uma interminável seqüência de ação. Carros, motos, aviões, barcos, tratores e todos os veículos que você possa imaginar estão presentes no filme. Todos estão envolvidos em alguma cena onde são destruídos, ou por robôs rivais, ou por causa de alguma explosão advinda das milhares de bombas lançadas ao longo da projeção.

Nem tudo está perdido

Pois um dos únicos pontos positivos (um lapso do diretor, certamente) é a atuação de John Turturro, na pele do Agente Simmons. Quando o ator surge, é nítido o seu distanciamento em termos de qualidade dos demais presentes. Mesmo encarando um personagem que atua como um obcecado pesquisador, não escapa de um papel ruim e inverossímil, mas consegue, ainda assim, se colocar com dignidade diante das parcas falas que têm em mãos.

Transformers: A Vingança dos Derrotados

É triste perceber que um orçamento de US$ 200 milhões tenha servido apenas para Michael Bay ampliar a sua média de explosões por minuto. Roteiristas como Alex Kurtzman, Roberto Orci (que juntos fizeram o ótimo Star Trek) e Ehren Kruger (Os Irmãos Grimm) não poderiam passar adiante um material tão ruim. O desfecho é miseravelmente amador, calcado em um subterfúgio de resolução tão absurdo e insensato, quanto sem propósito.

Em suma: os verdadeiros derrotados são os espectadores, que precisam agüentar as quase 2h30 de uma projeção que provoca quase a mesma sensação de estar em uma montanha russa. Porém, com uma grande diferença: montanhas russas são bem mais divertidas. E o melhor de tudo: não são dirigidas por Michael Bay.

Nota 4.

*Texto publicado originalmente no site Portal de Cinema, em 2009.

Sinopse

Sam Witwicky deixa os Autobots para trás por uma vida normal. Mas quando sua mente está cheia de símbolos enigmáticos, os Decepticons vão em busca dele, e a guerra dos Transformers recomeça.

Ficha Técnica

  • Título original: Transformers: Revenge of the Fallen.
  • Origem/Ano: Estados Unidos, 2009.
  • Direção: Michael Bay.
  • Roteiro: Ehren Kruger, Roberto Orci e Alex Kurtzman.
  • Produção: Ian Bryce, Tom DeSanto, Lorenzo di Bonaventura e Don Murphy.
  • Fotografia: Ben Seresin.
  • Montagem: Roger Barton, Tom Muldoon, Joel Negron e Paul Rubell.
  • Música: Steve Jablonsky.
  • Elenco principal: Shia LaBeouf (Sam Witwicky), Megan Fox (Mikaela Banes), Josh Duhamel (Major Lennox), Tyrese Gibson (USAF Chief Master Sergeant Epps), John Turturro (Simmons), Ramón Rodríguez (Leo Spitz), Kevin Dunn (Ron Witwicky), Julie White (Judy Witwicky), Isabel Lucas (Alice) e John Benjamin Hickey (Galloway).

Premiações

Indicação ao Oscar de Melhor Mixagem de Som.

Curiosidades

Transformers: A Vingança dos Derrotados estreou nos cinemas dos Estados Unidos em 22 de junho de 2009. No Brasil, estreou nos cinemas em 23 de junho de 2009.

O orçamento de Transformers: A Vingança dos Derrotados foi de US$ 200 milhões. O filme arrecadou mais de US$ 836 milhões nas bilheterias em todo o mundo.

Segundo filme da série. Os demais foram Transformers: O Filme (2007), Transformers: O Lado Oculto da Lua (2011), Transformers: A Era da Extinção (2014), Transformers: O Último Cavaleiro (2017), Bumblebee (2018) e Transformers: O Despertar das Feras (2023).

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