Um filme obrigatório para educadores, provocando uma reflexão sobre o verdadeiro papel da escola
O filme alemão Tudo Por Um Ponto é daquelas obras que, com muita simplicidade, conseguem abordar um tema fundamental, de maneira profunda, sem deixar de lado o bom humor e o entretenimento. Já adianto: um filme obrigatório para professores e educadores que queiram repensar qual é o verdadeiro papel da escola na vida dos alunos.
Dirigido por Sönke Wortmann (O Milagre de Berna), a produção é uma reflexão sobre a função da educação na vida de um estudante. Para isso, confronta professores, especialmente aqueles com mente fechada para novas metodologias de trabalho ou que se preocupam mais com o status de poder que têm perante os alunos do que com qualquer outra coisa.
Um ponto que pode mudar uma vida
Manfred Prohaska (Thorsten Merten) é o pai de um aluno que está prestes a ser reprovado por apenas um ponto. Procurando entender o motivo da nota mais baixa, ele procura o antipático professor Klaus Engelhardt (Justus von Dohnányi) com um pedido simples: que ele adicione um ponto na nota final para que o filho passe e, enfim, possa seguir a vida.
Irredutível e pedante, Klaus resiste ao pedido, pois isso vai contra seus princípios. Para ele, um mísero ponto é motivo mais do que suficiente para reprovar um aluno, ainda que isso possa representar seu futuro. Sua única preocupação é manter o status de poder e se sentir superior por manter um controle “rígido”.
Armado, Prohaska tranca ele com outros educadores na Sala dos Professores e faz um aviso: eles têm uma hora para fazer uma reunião entre todos e decidir, por unanimidade, aprovar seu filho – ou justificar a reprovação.
Afinal, para que serve a educação?
É a partir dessa premissa que se estabelece o confronto principal do filme. Durante cerca de uma hora, seis professores, com pensamentos completamente diferentes entre si, tentam chegar a um consenso do que é justo ou não. Enquanto uns preocupam-se apenas com metodologias rígidas e a manutenção de um status quo decadente, outros querem ser mais inclusivos e abrir novas possibilidades.
O que se vê, a partir de então, é que o futuro de um estudante está, literalmente, nas mãos da decisão de pessoas que têm seus próprios problemas e limitações. E que, de forma alguma, são tão inimputáveis quanto tentam parecer. Aos poucos, conhecemos os problemas pessoais e o caráter de cada um deles, o que nos leva a reflexão sobre o verdadeiro papel da escola.
Para alguns professores, descontar um mísero ponto por um atraso ou por um erro de escrita é justificável para reprovar e “reter” o estudante na escola por mais tempo. “A universidade não deve ser para todos mesmo”, defende Heidi Lohmann (Anke Engelke), uma professora amargurada com as suas próprias frustrações e que desconta sua raiva nos alunos.
O papel da escola na vida de alguém
Em Tudo Por Um Ponto, fica claro que a escola em questão trata alunos como meros números, sem conhecer a fundo as individualidades e necessidades de cada um deles. Não é diferente de muitas das escolas brasileiras que conhecemos, nas quais professores, muitas vezes defasados em relação ao mundo atual, decidem a vida de jovens que não têm outra escolha diante de si a não ser seguir as velhas regras do jogo, ainda que não saibam ao certo o motivo.
Obviamente, a crítica não é aos professores em geral, mas ao sistema como um todo, que privilegia um conceito numérico – a famigerada nota – em detrimento ao real ensino que possa servir como base para algo mais concreto. Basta estudar e passar de ano, ainda que à base de decoreba. Aprender passa a ser uma opção, e não a razão, e daí vemos inúmeros outros problemas estruturais que surgem a partir disso.
Para ver e debater – com alunos e professores
A comédia alemã Tudo Por Um Ponto é daqueles filmes obrigatórios para se ver em sala de aula e refletir sobre as muitas possibilidades que ele abre. Do ponto de vista dos alunos, professores ditatoriais que se impõem sobre os demais apenas pelo status são coisa do passado. Assim como o sistema de ensino precisa ser repensado, para que privilegie a capacidade de pensar.
A função da escola é formar cidadãos capazes de interagir na sociedade, realizar sonhos e contribuir para um mundo mais justo e humano. Uma nota 6 ou 7, ou mesmo 10, não fará diferença alguma no final das contas se o estudante em questão não tiver a menor ideia dos motivos pelos quais ele alcançou esse conceito.
Uma ótima surpresa para se ver diretamente em streaming. Uma reflexão necessária, atual e apresentada de forma bem-humorada.
Nota 9.
Sinopse
Em Tudo Por Um Ponto, uma reunião de professores é interrompida por um pai zangado e armado. Ele quer lutar pela admissão de seu filho no Ensino Médio e os professores presentes devem neutralizar a situação.
Ficha Técnica
- Título original: Eingeschlossene Gesellschaft.
- Origem/Ano: Alemanha/2022.
- Direção: Sonke Wortmann.
- Roteiro: Jan Weiler.
- Produção: Jochen Cremer e Eva Holtmann.
- Fotografia: Jo Heim.
- Montagem: Andrea Mertens.
- Música: Martin Todsharow.
- Elenco principal: Florian David Fitz (Peter Mertens), Anke Engelke (Heidi Lohmann), Justus von Dohnányi (Klaus Engelhardt), Nilam Farooq (Sara Schuster), Thomas Loibl (Holger Arndt), Torben Kessler (Bernd Vogel) e Thorsten Merten (Manfred Prohaska).
Curiosidades
Tudo Por Um Ponto estreou na Alemanha em 5 de abril de 2022. No Brasil, estreou diretamente em streaming em 01 de março de 2023.
Belíssima reflexão. RECOMENDO MUITÍSSIMO.