O Crime é Meu

O Crime é Meu aposta em tom cômico e teatral para criticar o machismo da sociedade

O Crime é Meu

“E se fosse um homem que tivesse cometido esse crime, estaríamos aqui discutindo isso?” A produção francesa O Crime É Meu mistura elementos de filme noir e comédia pastelão para criticar, de maneira ácida, o machismo na sociedade francesa.

Na trama acompanhamos Madeleine Verdier (Nadia Tereszkiewicz), uma jovem atriz sem dinheiro que é acusada de assassinar um famoso produtor de cinema. Com a ajuda de sua amiga e advogada Pauline Mauléon (Rebecca Marder) elas planejam um grande golpe: assumir a culpa pelo crime. Em troca, ganham publicidade gratuita para a aspirante a artista.

Dirigido por François Ozon (Dentro de Casa), a produção acerta ao adotar um tom cômico e, até certo ponto, canastrão em algumas sequências como forma de suavizar a história. Entretanto, não deixa de lado uma crítica ácida ao machismo da sociedade francesa dos anos 30, mostrando que muitas situações ainda não mudaram.

O Crime é Meu

Do teatro para o cinema

O Crime É Meu é baseado em uma peça de teatro da década de 30, escrita por Georges Berr e Louis Verneuil. Ainda que esse seja um texto atualizado e livremente adaptado, o diretor optou por manter a ambientação nos anos 30, dando às duas mulheres um papel ainda mais significativo diante dos seus desafios.

Há que se ressaltar aqui é ótimo trabalho de direção de arte e fotografia que, além de proporcionar uma ambientação bastante convincente, consegue transmitir mesmo nas sequências mais simples o clima da época. O ritmo, privilegiado pela boa montagem, consegue captar bem os pontos de virada do roteiro, tornando o filme dinâmico para os padrões atuais.

É curioso notar ainda que, à época na qual o filme se passa, mulheres ainda não tinham direito a voto na França, por exemplo, ainda que já começassem a desempenhar outros papéis na sociedade, não sem desconfiança. A sequência do julgamento na qual o promotor é confrontado é icônica nesse sentido: algumas coisas não estariam nem em discussão na corte caso o crime tivesse sido praticado por um homem.

O Crime é Meu

Empoderamento feminino como legítima defesa

Apesar de ser inocentada do crime, Madeleine Vernier se torna uma celebridade instantânea à medida que ocupa as capas de jornais dia após dia com notícias do julgamento. Mais do que isso: a condução dos fatos leva a jovem a se tornar uma espécie de “símbolo”. Um símbolo de empoderamento que leva outras mulheres a agirem (ou reagirem) aos seus maridos.

O julgamento, é importante notar, leva essa premissa em consideração: não importa, necessariamente, quem cometeu o crime ou como as coisas ocorreram, mas sim a mensagem que ele deixa para a sociedade em caso de inocência dela. Assim, cabe a um júri formado exclusivamente por homens, em um tribunal predominantemente masculino, legislar sobre o que é aceitável ou não para as mulheres.

A crítica não aparece apenas nesse sentido. Ao retratar figuras masculinas proeminentes de forma caricata – como o procurador Maurice Vrai (Michael Fau) ou o empresário M. Bonnard (André Dussollier), apenas para citar alguns – Ozon não só os desarma como nos mostra o quão desprovidas de senso são os pré-conceitos que se baseiam no gênero como atestado de idoneidade ou capacidade.

O Crime é Meu

Afinal, O Crime é Meu compensa?

Por fim, se há outro item digno de nota em O Crime É Meu é a atuação do elenco principal. Aqui, falamos de Nadia Tereszkiewicz (A Última Rainha), Rebecca Marder (A Garota Radiante) e Isabelle Huppert (A Sindicalista). Esta última entra em cena apenas no ato final, mas de maneira arrebatadora o suficiente para mudar os rumos da trama.

François Ozon consegue reunir aqui boas atuações, um roteiro policial simples, divertido e instigante e uma mensagem crítica forte o suficiente para ecoar depois da sessão. O Crime É Meu é uma boa pedida e entra para a lista de bons filmes franceses que merecem ser vistos com um olhar mais atento.

Nota 7.

Sinopse

Madeleine Verdier, uma atriz sem dinheiro, é acusada do assassinato de um famoso produtor. Com a ajuda de sua melhor amiga ela prova isso, é absolvida por legítima defesa.

Ficha Técnica

  • Título original: Mon Crime.
  • Origem/Ano: França, 2023.
  • Direção: François Ozon.
  • Roteiro: François Ozon, baseado em peça de Georges Berr e Louis Verneuil.
  • Produção: Eric Altmayer e Nicolas Altmayer.
  • Fotografia: Manuel Dacosse.
  • Montagem: Laure Gardette.
  • Música: Philippe Rombi.
  • Elenco principal: Nadia Tereszkiewicz (Madeleine Verdier), Rebecca Marder (Pauline Mauléon), Isabelle Huppert (Odette Chaumette), Fabrice Luchini (Le juge Gustave Rabusset), Dany Boon (Fernand Palmarède), André Dussollier (M. Bonnard), Édouard Sulpice (André Bonnard), Régis Laspalès (M. Brun), Olivier Broche (Léon Trapu, le greffier) e Félix Lefebvre (Gilbert Raton).

Drama | Comédia | Policial | Assista nos cinemas

Curiosidades

O Crime é Meu estreou nos cinemas da França em 8 de março de 2023. No Brasil, estreou nos cinemas em 6 de julho de 2023.

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